terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Calabar

Dentre as várias figuras polemicas que povoam as páginas históricas do Brasil holandês, sem dúvida, a mais destacada foi a de Domingos Fernandes Calabar.

Nascido no ano de 1609, filho de um português e uma negra, na Capitania de Pernambuco, povoação de Porto Calvo, hoje Alagoas, Calabar foi educado pelos padres jesuítas. Praticou o contrabando e chegou a possuir algumas terras. Quando os holandeses invadem Pernambuco em fevereiro de 1630, Calabar ingressa nas forças de resistência e combate duramente as tropas da Cia. das Índias Ocidentais (WIC).

Em 20 de abril de 1632 Calabar passa para o lado dos invasores. Profundo conhecedor da geografia da região e com bom relacionamento com os índios, orienta os holandeses na conquista de diversas localidades, dentre as quais Igarassú, Rio Formoso, Itamaracá, Cabo, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Aprendeu rapidamente a língua holandesa e devido aos seus bons serviços privava da amizade dos comandantes e dos conselheiros da WIC.

Em 06 de junho de 1635 cai o Arraial do Bom Jesus, último baluarte luso-brasileiro na região de Olinda e Recife. As tropas remanescentes de Matias de Albuquerque seguem juntamente com os retirantes do Bom Jesus para Salvador, Bahia. Na passagem por Porto Calvo, conseguem tomar aquela vila, então sob o comando do major Alexander Picard. Calabar, que se encontrava em Porto Calvo, é sumariamente julgado e condenado a morte por traição. Foi executado em 22 de julho de 1635, sendo garroteado e em seguida esquartejado. Seus restos mortais foram expostos na estacada da vila.

Não se sabe ao certo os motivos da deserção de Calabar. Cita-se o assassinato de uma mulher e também desfalques nos cofres da Coroa. A deserção era fato comum naqueles tempos, haja visto os maus-tratos aos negros, índios e mestiços e as perseguições religiosas por parte dos portugueses. Pelo lado dos holandeses vale lembrar que o exército da WIC era composto em sua grande maioria por mercenários, sem contar com a falta de alimentos, armas e vestuário para os invasores.

O historiador Evaldo Cabral de Mello afirma que Calabar foi morto para não divulgar informações que tinha sobre o colaboracionismo com os holandeses de pessoas destacadas na sociedade portuguesa em Pernambuco. O frei Manuel Calado que ouviu sua confissão antes da execução diz que Calabar havia citado que não eram os mais humildes os culpados pela colaboração com os invasores.

Pelos bons serviços prestados, os holandeses concederam uma pensão de oito florins por mês a cada um dos três filhos de Domingos Fernandes Calabar.


sábado, 19 de janeiro de 2013

A Escravidão no Brasil Holandês

A escravidão era comum a quase todas as civilizações da antiguidade, sendo praticada em culturas do oriente, oriente médio e ocidente.

No Novo Mundo a escravidão já existia entre os índios, que escravizavam os vencidos nas guerras. Com a chegada dos espanhóis e portugueses os escravos eram comercializados com os colonizadores. No Brasil, os índios não se prestavam aos duros trabalhos que lhes eram impostos, como a extração do pau-brasil e o cultivo da cana-de-açúcar, sendo substituídos pelos negros africanos. Como os negros eram considerados infiéis e por isso inimigos da Igreja Católica, o Papa Eugênio IV já havia autorizado em 1436 a escravatura dos africanos.

Com o aumento da produção açucareira no final do século XVI, o tráfico negreiro cresceu assustadoramente, estimando-se em 30.000 negros sequestrados da África para trabalharem no Brasil até 1600, principalmente nas lavouras de cana-de-açúcar.

Os invasores holandeses logo observaram que o braço escravo era imprescindível à produção do açúcar, seu objetivo primário, tratando de implantar entrepostos na própria África para garantir um fluxo constante de negros para os engenhos do Brasil holandês. Nassau envia expedições à São Jorge da Mina e São Paulo de Luanda conquistando as fortalezas portuguesas daquelas localidades.

Os escravos eram transportados em condições sub-humanas, amontoados em navios sem nenhuma higiene e quase sem alimento e água. A mortandade era tamanha que o próprio Nassau, em 1644, envia relatório aos Estados Gerais na Holanda assinalando que um quarto dos negros embarcados na África morria devido às péssimas condições da travessia.

A Cia. das Índias Ocidentais traficava e vendia os negros escravos para os senhores-de-engenho com grande lucro. Eram comprados na África por valores entre 12 e 75 florins e vendidos no Recife, na Rua dos Judeus, por 200 a 300 florins. Os escravos eram utilizados, além da cultura da cana e produção açucareira, nas tarefas domésticas, na extração do pau-brasil, na criação de gado e também como soldados nas guerras.

O engenheiro e historiador Roberto Simonsen em seu livro História Econômica do Brasil (1937) estima que 350 mil negros foram trazidos da África para o Brasil no século XVII.  

A importância dos escravos no Brasil era tão evidente que o padre Antônio Vieira afirmou em 1648: Sem negros não há Pernambuco.