domingo, 3 de maio de 2020

Gilberto de Mello Freyre

Como o próprio Mestre de Apipucos costumava dizer, sua vocação máxima era a de escritor.

Nascido no Recife em 15 de março de 1900, Gilberto Freyre estudou no então Collegio Americano Girealth, hoje Colégio Americano Batista. Seguiu então para a Universidade Baylor, Texas, onde graduou-se em Ciências Políticas e Sociais. Pós-graduou-se em Ciências Políticas, Jurídicas e Sociais na Universidade de Columbia . Travou contato na América com juristas, economistas, antropólogos, sociólogos, poetas e filósofos americanos e europeus.

Na Europa, Freyre esteve na França, Inglaterra, Alemanha e Portugal, conhecendo museus e participando de diversos cursos, principalmente na área de sociologia. Recusou cátedras nas universidades de Yale, Harvard, Princeton e Berlin para dedicar-se ao prazer de escrever, apesar de já ter lecionado em Stanford, Michigan, Indiana e Virginia. Proferiu conferências e dirigiu seminários em todos os grandes centros acadêmicos da Europa, Estados Unidos e até em Goa, na Índia. Em 1935 foi designado professor extraordinário de sociologia na Faculdade de Direito do Recife e, no mesmo ano, inaugurou as cátedras de Sociologia, Antropologia Social e Cultural e Pesquisa Social na Universidade do Distrito Federal, então no Rio de Janeiro.

Foi membro de inúmeras sociedades e academias internacionais e nacionais de filosofia, sociologia e antropologia, inclusive do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Recebeu vários prêmios e láureas das mais conceituadas universidades e de países do mundo inteiro. Na política, foi deputado por Pernambuco de 1946 até 1950, membro da Comissão de Educação e Cultura da Câmara Federal, tendo representado o Brasil na Assembleia Geral da ONU em 1949.

Em 1947 idealiza o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, hoje Fundação Joaquim Nabuco – FUNDAJ, que foi fundado dois anos depois, em comemoração ao centenário de nascimento do grande abolicionista recifense, e está instalado na Av. 17 de Agosto, em Apipucos, Recife. Atualmente, estão vinculados à FUNDAJ o Museu do Homem do Nordeste, a Biblioteca Central Blanche Knopf e o Centro Cultural Engenho Massangana, dentre outros centros de pesquisa e cultura.

Seus livros foram traduzidos até para as línguas mais distantes de nós como o iugoslavo, sueco, norueguês e japonês. Desde Casa Grande & Senzala de 1933, seu mais aclamado trabalho literário, Gilberto Freyre escreveu: Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife (1934), deliciosa declaração de amor à sua cidade natal; Sobrados e Mucambos (1936); Nordeste (1937); Açúcar (1939), com receitas da culinária da cultura canavieira nordestina; Olinda – 2° Guia Prático, Histórico e Sentimental de Cidade Brasileira (1939); Assombrações do Recife Velho (1955) e New World in the Tropics (1959), entre dezenas de outros títulos, sem contar com os artigos acadêmicos e ensaios de sua autoria.

Foi diretor do jornal A Província do Recife, e depois do Diário de Pernambuco por pouco tempo. Foi colaborador das revistas O Cruzeiro (brasileira), The American Scholar e Foreign Affairs (americanas), The Listener e Progress (inglesas), Diogène e Cahiers d’Histoire Mondiale (francesas), Kiklos (suíça) e Kontinent (austríaca).

Considerado mundialmente como um dos mais importantes sociólogos do século passado, Gilberto Freyre reunia o imenso saber cientifico com um amor genuíno pela cultura popular, sendo muitas vezes olhado enviesado pelos acadêmicos puristas e defensores dos padrões tradicionais da sociedade. Recebeu as mais importantes comendas como a Ordem do Império Britânico e a Ordem da Legião de Honra da França, além de ter ocupado a cadeira 23 da mais do que centenária Academia Pernambucana de Letras.


Freyre combatia a tendência até então vigente de tornar europeia a cultura brasileira, que tentava esconder as nossas raízes também indígenas e africanas. Ressaltava a enorme influência portuguesa na América, África e Oriente, criando até um ramo de estudos que denominou Lusotropicologia, mas defendia e demonstrava que a nossa sociedade era uma massa bem misturada dos índios, europeus, africanos e em menor proporção de outros povos do mundo inteiro.