terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Fernando de Noronha

O arquipélago de Fernando de Noronha foi descoberto em 24 de junho de 1503 pelo cristão-novo de mesmo nome que saíra de Lisboa em maio. Pelo dia da descoberta os marujos deram-lhe o nome de São João, mas os judeus mudaram-no depois para o do próprio comandante, Fernando de NoronhaEssa ilha, bem como vários trechos da costa brasileira, havia sido visitada e descrita por navegantes holandeses desde o início do século XVII. Esses relatos serviram de guia para a frota que invadiu Pernambuco em 1630:

A ilha de Fernando de Noronha mede entre 2 e 2¹/² milhas por aproximadamente 3/4 milhas. O lado meridional fica aberto e desprotegido contra os ventos de Leste e Sudoeste, e está inteiramente flanqueado por rochas e recifes, de modo que nem na monção do Nordeste será possível ancorar lá os navios.

Um pouco para o oeste está o embarcadouro, parcialmente rochas baixas que caem secas na baixa-mar, contra o qual podeis amarrar o barco sobre uma braçada de água para meter lastro. Ao leste do embarcadouro sai um riacho na época das chuvas. Ao oeste do embarcadouro está o lugar da aguada, que está ligada a terra como península por uma faixa estreita de 18 ou 20 pés.

A ilha começa a mostrar-se de uma distância afastada, apresenta-se como uma torre ou vela, porque só o pico ou monte íngreme se mostra antes das demais partes. Aproximando-se mais um pouco distingui-se um monte ao lado ocidental do pico, que juntos fazem a impressão duma igreja com sua torre.


Capitão Dirck Symonsz

1628

sábado, 24 de dezembro de 2011

Cronologia dos Holandeses no Brasil

Durante o século XVII os holandeses estiveram boa parte do tempo no Brasil. Vejamos os fatos mais importantes ligados a estas invasões:

1621 - termina a Trégua dos Doze Anos entre a Espanha e as Províncias Unidas.
1624 - invasão holandesa da Bahia através de esquadra do almirante Jacob Willekens.
1625 - os invasores são expulsos de Salvador por uma força luso-espanhola comandada por Dom Fradique de Toledo Osório.
1628 - esquadra do holandês Peter Heyn captura uma frota espanhola carregada de ouro e prata do México na baia de Matanzas em Cuba.
1630 - os holandeses invadem Pernambuco com uma esquadra de 67 navios do almirante Hendrik Lonck e das tropas do coronel Diederick van Waerdenburch.
1632 - com a deserção e ajuda de Domingos Fernandes Calabar os holandeses iniciam a conquista das localidades e capitanias vizinhas a Pernambuco.
1635 - tomada do Arraial do Bom Jesus pelos holandeses.
1637 - Maurício de Nassau chega ao Recife e começa a reorganizar o Brasil holandês.
1638 - Nassau tenta invadir Salvador mas é rechaçado.
1640 - início da Revolução Restauradora visando separar o trono português do espanhol, juntos como União Ibérica desde 1580.
1641 - Portugal e Holanda assinam um tratado de aliança mas a guerra no Brasil nunca foi suspensa.
1642 - a Cia. das Índias Ocidentais decide reduzir seus efetivos no Brasil.
1644 - Nassau é dispensado do cargo de governador do Brasil holandês e volta para a Europa onde descreve a situação da falta de recursos na conquista.
1645 - início da Restauração Pernambucana; batalhas dos Montes das Tabocas (03/08) e Casa Forte (17/08).
1646 - os holandeses são sitiados no Recife e nos fortes do litoral.
1648 - 1ª batalha dos Guararapes (19/04).
1649 - 2ª batalha dos Guararapes (18/02).
1652 - primeira guerra anglo-holandesa.
1653 - chega a Pernambuco grande esquadra portuguesa com tropas.
1654 - as tropas luso-brasileiras reconquistam o Recife obrigando aos holandeses a assinar a rendição em 26 de janeiro.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Descrição do Recife

Pode-se dizer que esta praça é a mais forte do Brasil e uma das mais fortes do mundo; também os Governadores e altos magistrados da Companhia das Índias Ocidentais para os Estados Gerais aí residem e possuem seus armazéns, aí aportam todos os navios, como lugar onde floresce o comércio. Está situada a oito graus além do Equador, à borda do Oceano, que tem por oriente; tem ao Ocidente a terra firme, ao norte a cidade de Olinda.

Na ponta do Recife, o rio salgado se divide; uma parte deságua no porto, outra penetra pela terra e a contorna num circuito de uma légua e meia, quase em oval, formando uma ilha do lado mais próximo e que fica situada no Recife; só se pode fazer um trajeto, sobre o qual mandaram construir uma ponte de madeira, e sobre a margem está construída uma outra cidade chamada, antigamente, pelos portugueses, Santo Antônio e, presentemente, pelos holandeses, Mauritstad ou Cidade Maurícia.


Pierre Moreau
História das Últimas Lutas no Brasil entre Holandeses e Portugueses
1646 - 1648

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Homenagem

Segue relação dos principais pesquisadores que obtiveram informações sobre as aventuras holandesas no Brasil. São homens que dedicaram e dedicam seus esforços para elucidar esta importantíssima etapa da história da nossa pátria, quando ainda nem pátria ela ainda era.

FRANCISCO ADOLFO DE VARNHAGEN. Nascido na cidade paulista de São João de Ipanema em 1816, publicou diversos livros sobre a história do Brasil, dentre os quais Historia Geral do Brazil (1854) e História das Lutas Com Os Holandeses no Brasil em 1871, após pesquisa nos arquivos dos Estados Gerais das Províncias Unidas na Holanda. Pelos importantes serviços prestados ao país como diplomata e pesquisador, recebeu o título de Visconde de Porto Seguro. Morreu em Viena, Áustria em 1878.

JOSÉ HYGINO DUARTE PEREIRA. Advogado recifense nascido em 1847, ocupou diversos cargos públicos eletivos no executivo e legislativo, atuando também no judiciário nas esferas estadual e federal. Através de visita aos arquivos da Cia. das Índias Ocidentais em Amsterdam, obteve cópias e depois traduziu para o português centenas de documentos hoje pertencentes ao Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco. Faleceu na cidade do México, em dezembro de 1901, quando representava o Brasil em uma conferência Panamericana.

ALFREDO DE CARVALHO. Nasceu em Recife no ano de 1870. Iniciou o curso de engª civil em Hamburgo, Alemanha, mas só o concluiu na Escola Politécnica da Filadélfia. Trabalhou na Estrada de Ferro Central do Brasil no Rio de Janeiro e posteriormente na Central de Pernambuco. Sendo fluente em alemão, inglês, holandês, francês, italiano e espanhol, traduziu para o português as obras Diário de um Soldado da Cia. das Índias Ocidentais, Olinda Conquistada, e o Diário de Expedição de Mathias Beck ao Ceará. Foi membro da Academia Pernambucana de Letras, dos Institutos Arqueológicos, Históricos e Geográficos de Pernambucano, da Bahia e do Rio Grande do Norte, da Academia Cearense, do Centro de Ciências, Artes e Letras de Campinas, da National Geographical Society e da Anthropological Society, nos Estados Unidos. Morreu no Recife em 1916.

JOSÉ HONÓRIO RODRIGUES. Nasceu em 1913 no Rio de Janeiro. Advogado e historiador, publicou uma dezena de livros, sendo o primeiro em 1940, com o título Civilização Holandesa no Brasil. Foi membro da Academia Brasileira de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia Portuguesa da História, da American Historical Association (EUA), da Royal Academy of History (Inglaterra) e da Sociedade Histórica de Utrecht (Países Baixos). Morreu em 1987.

JOSÉ ANTÔNIO GONSALVES DE MELLO. Nascido no Recife em 1916, formou-se em Direito e auxiliou Gilberto Freyre nas pesquisas para o livro Casa Grande & Senzala. Em 1947 publica o clássico Tempo dos Flamengos e em 1960 a obra Estudos Pernambucanos, resultado de suas pesquisas em arquivos europeus. Publicou também Gente da Nação. Cristãos-novos e judeus em Pernambuco 1542-1654 (1989). Tendo coletado por 40 anos imensa documentação sobre a presença holandesa no Brasil, é considerado o mais importante pesquisador sobre o assunto. Faleceu em 2002.

EVALDO CABRAL DE MELLO. Nasceu em Recife em 1936. Foi embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Espanha, França, Suíça, Portugal e Trinidad e Tobago. Dentre outros, publicou os livros: Olinda Restaurada: Guerra e Açúcar no Nordeste, 1630-1654; Rubro Veio: O Imaginário da Restauração Pernambucana; O Negócio do Brasil: Portugal, os Países Baixos e o Nordeste, 1641-1669; Nassau. Governador do Brasil Holandês e O Brasil Holandês (organizador).

LEONARDO DANTAS SILVA. Recifense nascido em 1945, formou-se em Direito, tendo trabalhado como jornalista por mais de 20 anos no Recife. Ocupou diversos cargos executivos em orgãos municipais e estaduais ligados a cultura em Pernambuco. Seguindo orientação do mestre José A. Gonsalves de Mello, visitou diversos arquivos em Portugal e na Holanda, tendo publicado dezenas de livros e artigos, além de prestar consultoria para o Instituto Ricardo Brennand e o Instituto Cultural Bandepe. Dentre suas obras, destacamos: Holandeses em Pernambuco 1630-1654, Arruando pelo Recife e O Brasil e os Holandeses: 1630-1654. É sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e efetivo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano e sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.

JOSÉ LUIZ MOTA MENEZES. Arquiteto, é especialista em história arquitetônica do Recife e professor do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia e Conservação do Patrimônio da UFPE. É membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, do Conselho de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura do Recife e do CREA. Tem vários livros e artigos publicados no Brasil e no exterior, dentre os quais o Atlas Histórico e Cartográfico do Recife.

MARCOS GALINDO. Doutor em história pela Universidade de Leiden, Holanda, e professor da UFPE no Departamento de Ciência da Informação, é membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. Publicou o livro Guia de Fontes Para a História do Brasil Holandês e organizou o Viver e Morrer no Brasil Holandês. Coordena o projeto Monumenta Hygina para digitalização da coleção de José Hygino.

Nossas humildes homenagens à sua dedicação e inteligência!!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O Testamento Político de Nassau

Nobres, veneráveis, mui avisados e prudentes senhores:

Seja o último ato do meu governo esta memória ou instrução que deixo a V. Sas como despedida, confiando que, se V. Sas a observarem e procederem segundo o seu teor, como fiz durante o tempo de meu governo, os resultados hão de ser, com o favor de Deus, em todas as ocasiões de paz e de guerra, mais felizes do que o foram até o presente.

V.Sas. ficam a governar um tríplice Estado ou comunidade, que se compõe principalmente de três sortes de indivíduos, soldados, mercadores e moradores de nacionalidade portuguesa; o domínio sobre este povo que deixo às mãos de V.Sas. compreende três matérias, de que depende a boa ou má administração, o militar, o civil e o eclesiástico.

Com relação a cada uma dessas matérias, comunicarei a V. Sas em desempenho de minha promessa (posto que faço sem ordem e confusamente, por me faltar tempo para lançar no papel alguma coisa de um modo apurado) algumas observações que me parecem necessárias e de acordo com as quais procurei até o presente proceder, tanto quanto
me era possível.

No tocante à gente de guerra, é de toda necessidade que V.Sas. mantenham respeito e honra que lhes pertencem, e conquanto este requisito seja necessário em relação a toda sorte de gente (pois para aquele que governa a autoridade é uma das principais razões de Estado e meio para a conservação da República), muito mais o é em relação aos troncos ilustres a que naturalmente são inerentes o respeito e veneração; devem
pois suprir esta falta por suas ações; com o que, seguindo o caminho que lhes mostrarei, obterão os menores efeitos.

A audiência dos militares e o despacho de seus requerimentos ou pedidos devem ser de breve expediente, sem que eles fiquem a esperar por muito tempo diante da Câmara do Conselho, o que é particularmente tomado em consideração ainda pelos maiores monarcas, para não caírem no tédio e na aversão dos seus soldados; e V. Sas devem tanto mais atender a isto quanto em parte alguma a milícia se ressente mais e é
mais cedo afetada do que no Brasil, atenta à situação do país.

No pagamento da pensão e nos empréstimos as cousas devem ser dirigidas de modo que, por maior que seja a estreiteza, não falte o necessário aos oficiais, porquanto nada há que mais depressa os faça pôr de lado e esquecer o respeito do que a necessidade e a privação. Queiram V. Sas tomar em consideração este ponto, pois receio muito uma
grande desgraça por causa do pouco caso e apreço que disto se faz.

Quanto aos delitos dos soldados, convém V.Sas. não sejam compassivos, pois, só pelo rigor se pode manter dedicada essa gente. A impunidade dos soldados, bem como de toda sorte de indivíduos os transvia e os corrompe facilmente. Mas, para poder castigar, é necessário não lhes dar ocasião de alegar que são mal-alimentados. Com os oficiais convém que V. Sas procedam de um modo cortês e polido, sem todavia admiti-los à familiaridade e às relações íntimas de amizades.

Convém que V. Sas procurem angariar e manter, por meio de favores e de dinheiro, alguns portugueses particularmente dispostos e dedicados para com V. Sas dos quais possam vir a saber em segredo os preparativos do inimigo, os seus novos desígnios e empresas. Esses portugueses devem ser dos mais importantes e honrados da terra, e lhes será recomendado que exteriormente se mostrem como se fossem dos mais desafetos aos holandeses para não caírem em suspeição. Os mais próprios seriam os padres, pois são eles que de tudo têm melhor conhecimento.

Neste particular não se pode fazer muito fundamento em gente ínfima, pois, se um dia dizem a verdade, em outro enganam com muitas mentiras. Devem contudo ser admitidos para que V. Sas aproveitem de suas comunicações o que lhes parecer bem, pois, às vezes, de algum deles se pode tirar alguma coisa de importância. Mas os avisos e as comunicações mais seguras devem ser procuradas entre os mais qualificados. Um ou dois deles bastam para comunicar segredos que, a não ser assim, escapariam a V. Sas
Cumpre que nesta matéria V. Sas mandem com particular cautela para evitar muito embuste. Maior cautela deve ser tomada nas confissões por tortura, pois, por temor da dor, fazem-se declarações que nunca foram pensadas nem sonhadas.

Cumpre que V.Sas. cuidem dos fortes e das fortificações, mantendo-os providos de munições e de víveres. Principalmente devem ter cuidado em que as paliçadas e estacadas sejam conservadas, pois aqui dificilmente se encontrará um forte que, se caírem por terra aquelas obras, não possa ser tomado de assalto, por serem secos os fossos. Entre outras cousas recomendarei a V.Sª. o jardim de "Aryburch" e os viveiros situados junto dele, não por causa de meu particular interesse, mas porque em tempo de penúria se pode tirar daí uma notável quantidade de refrescos, ao passo que em outras ocasiões foi necessário procurá-lo alhures com grande perigo e perda de gente.

Outrossim, tomem em consideração se não é necessário pôr um reduto diante da ponte da Boa Vista, do outro lado do rio, para conservar aberta a passagem para a Várzea.
A ponte entre o Recife e a ilha de Antônio Vaz é de grande importância, não tanto pela comodidade dos moradores e proveito das taxas, que rende anualmente, como pela junção desses dois lugares e facilidade de auxiliarem-se reciprocamente em tempo de aperto. Cumpre que a Companhia se resolva a conservar a ponte, bem como tome em consideração cuidar do mato cortado e do descobrimento do campo que fica entre o forte do Bruyn e o das Cinco Pontas.

Devem V. Sas proceder com todo o rigor contra os portugueses que forem convencidos de traição. Queiram pôr muito cuidado para que os portugueses não sejam exacerbados
ou irritados.

Para o mesmo fim aconselho a V. Sas que não permitam o uso de armas, salvo aos que tiverem documentos assinados do meu próprio punho, na maioria holandeses, franceses e ingleses que vão ao interior cobrar as suas dívidas, ou portugueses que aí residem e são atacados pelos negros dos matos, pelos tigres e outros animais.

Os portugueses serão submissos se forem tratados com cortesia e benevolência. Sei por experiência que o português é uma gente que faz mais caso da cortesia e do bom tratamento do que de bens. Convém que V.Sas. tenham por suspeitas as informações dadas contra os portugueses pelos militares, pois os da milícia são, em geral, ciosos e a eles desafetos.

Devem V.Sas. abster-se de lançar novos impostos, pois os tributos geram indisposições no povo. O povo é um rebanho de carneiros que se tosquiam, mas quando a tosquia vai até à carne, produz infalivelmente dor e, como esses carneiros raciocinam, por isso mesmo se convertem muitas vezes em terríveis alimárias. O país não deve ser esgotado de dinheiro corrente porque este é o músculo e o nervo, sem os quais este corpo nenhuma força pode ter.

No eclesiástico ou em cousas da Igreja, a tolerância ou condescendência é mais necessária ao Brasil do que entre qualquer outro povo a que se tenha concedido a liberdade de religião. Não convém por agora que a prática da nossa religião seja abertamente introduzida entre os portugueses com abolição dos seus ritos e
cerimônias, pois nada há que mais os exacerbe.

Também não convém agora que V.Sas. se envolvam em suas disciplinas eclesiásticas e no que disto depende; deixem essa matéria, servatis servandis, a seus padres e vigários, porquanto o contrário disto é prematuro, sem utilidade à reputação, e V.Sas. acharão de fato que nada há que mais lho doa do que meter-se o governo secular e ter que ver com os seus sacerdotes. Cumpre que V. Sas não admitam queixas particulares em matéria de religião.

Podem V. Sas estar certos de que nada avancei neste papel que eu mesmo não tenho posto em prática, salvo no concernente a alguns pontos acima mencionados, cuja reforma, por causa da minha partida, deixo a V. Sas.

Queiram crer que por isso fui respeitado e amado por ambas as nações, que testemunharam gratamente e de bom coração o seu reconhecimento pelo meu comportamento sem que eu tenha exigido, desfrutado ou me tenha sido dada alguma coisa para meu proveito por graças, favores ou despachos por mim concedidos, e posso na verdade e sã consciência (Deus seja louvado!) declarar e jurar que nunca recebi favor ou emolumento como confio que V. Sas procederão do mesmo modo.

Peço a Deus Onipotente que abençoe e tome sob sua divina proteção o governo de V. Sas.

Dedicado a V. Sas
J. Maurice, Conde de Nassau
Recife de Pernambuco, 6 de maio de 1644.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Recife é um Arrecife

Tratando agora do Recife diremos que é um arrecife, o que também significa na língua dos portugueses, e é o nome do lugar; ao sul de Olinda estende-se um banco de areia, geralmente largo de 36 a 40 passos, e assaz alto, contra o qual bate o mar; seguindo-se uma hora grande ou mais de caminho pelo banco de areia acha-se uma aldeia...

Entre dois castelos [fortes], onde a água tem a largura de um tiro de canhão, entram os navios e fundeiam em um bom cais com pouco fundo entre os dois bancos, onde se achavam muitos armazéns.

A aldeia com os dois castelos e o porto situado entre ambos, junto com os bancos de areia que o fecham, tudo isto junto é comumente chamado com um nome - Recife.

O Recife é naturalmente forte e capaz de ser ainda mais fortificado, porém, Olinda é por natureza fraca, e, em consequencia de diversas eminências e montes, que uns e outros e todos juntos comandam a praça, não pode ser bem fortificada sem grande trabalho e despesa.


Olinda Conquistada
narrativa do Reverendo Joham Baers,
capelão do coronel Theodoro Waerdenburch

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Invasão Projetada

Os holandeses já tinham a intenção de tomar a colônia brasileira aos espanhois (seus inimigos) e portugueses havia tempo. Em 1624, Jan Andries Moerbeeck publicou na Holanda um documento intitulado "Motivos Por Que a Companhia das Índias Ocidentais Deve Tentar Tirar ao Rei da Espanha a Terra do Brasil", onde demonstra grande conhecimento da situação do Brasil. Seguem alguns trechos:

"Embora a terra do Brasil seja maior do que toda a Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, Escócia, Irlanda e os dezessete Países Baixos juntos, e embora os portugueses se tenham fixado em umas boas quatrocentas milhas, ao largo das costas marítimas, sendo eles milhares em número, contudo há apenas dois lugares mais importantes do mesmo país, isto é, Bahia e Pernambuco. E, em tendo sido os mesmos ocupados e fortificados e em sendo feito algumas fortificações em certos lugares, colocando nelas algumas guarnições competentes, a Cia. das Índias Ocidentais não somente se tornará senhora do país inteiro, como poderá manter a sua posse."

"Os soldados e marinheiros obterão, também, muita presa, tanto em moeda corrente como em jóias, pratarias, vestidos preciosos, linho e outras coisas, uma vez que, estando essas duas cidades tão perto do mar e sendo de tão fácil acesso, não terão os seus habitantes tempo para transportá-los, ocultá-los, ou mandá-los para outros lugares. Se a C.I.O. permitir, de boa vontade, essas pilhagens, obterá tão grande reputação que, em todos os tempos, poderá dispor de tanto pessoal quanto precisar."

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A Guerra Sem Quartel

As lutas entre os soldados da Cia. das Índias Ocidentais e os luso-brasileiros eram marcadas por extrema crueldade. Observe-se o relato de uma emboscada armada pelos holandeses contra os combatentes locais, que sempre atacavam as tropas neerlandesas que saíam das fortificações para caçar, apanhar frutas ou lenha:

"De noite, pelas 11 horas, foram escaladas duas companhias com escopeteiros e mosqueteiros que foram se postar silenciosamente de ambos os lados do vau um pouco pelo mato adentro.
Ao romper do dia saíram os trabalhadores seguidos de uma fraca escolta. Logo que o inimigo os percebeu não se demorou em passar o rio aos magotes e com grande alarido caiu sobre eles.
Nós da escolta, nos retiramos e os trabalhadores deitaram a fugir até te-los atraído bem para fora d'água e feito esgotar as munições.
Então, as nossas tropas, anteriormente mencionadas, os acometeram por todos os lados, cortaram-lhes a retirada e mataram quantos encontraram. Tratamos especialmente os brasilienses [índios] como eles costumam fazer com os nossos. De modo que, junto com grande número de armas, arcos e flechas, diversos levaram para o quartel muitos narizes e orelhas espetados nas espadas.
Assim o meu major, Sr. Berstedt, como heróico cavalheiro que era, ofereceu ao Sr. Coronel a sua espada cheia, até metade da lâmina, de narizes e orelhas."


Ambrósio Richshoffer, soldado da C.I.O.
janeiro de 1631

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Pau-Brasil

Nem só da riqueza do açúcar vivia a economia do Brasil holandês.

A exploração do pau-brasil, árvore chamada pelos índios de ibira pitanga (madeira vermelha), utilizada para tingimento de tecidos de luxo, era monopólio da Cia. das Índias Ocidentais.

"Há um lugar muito grande e habitado, chamado Mata do Brasil, o qual está situado a cerca de 9 ou 10 milhas ao sul de Pernambuco para o interior. Ali moram muitos camponeses que fazem considerável porção de pau-brasil com seus negros e brasilienses [índios], sendo ali livre o corte do pau-brasil. Depois de limpo, é trazido em carros para um lugar de nome São Lourenço onde é vendido aos contratantes do rei, que dão por cada 128 libras ou 4 arrobas, de 1 cruzado a 480 réis." Adriaan Verdonck, 1630.

"O pau-brasil é a fonte de renda que se segue ao açúcar. Cresce de 10 a 12 milhas para o interior, achando-se nas matas fechadas, uma árvore aqui, outra ali. Arranca-se a casca branca que recobre o tronco, pois somente o miolo da árvore é vermelho e possui valor corante." Adriaan van der Dussen, 1639.

Em Amsterdam, Holanda, havia até uma prisão conhecida como Rasphuis (casa de ralar) onde os condenados, geralmente jovens delinquentes, trabalhavam raspando toras de pau-brasil, cujo pó seria transformado no corante denominado brasilina de altíssimo valor comercial.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

José Hygino Duarte Pereira

Nascido em Recife no dia 22 de janeiro de 1847, o advogado, professor, deputado, senador, secretário da província de Pernambuco, membro da Academia Pernambucana de Letras e ministro José Hygino foi o primeiro pesquisador pernambucano a utilizar os extensos arquivos dos Estados Gerais e da Cia. das Índias Ocidentais na Holanda onde obteve copias e traduziu centenas de documentos sobre o período do Brasil holandês, como delegado do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano.

Morreu em 11 de dezembro de 1901 quando exercia o cargo de Delegado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário na 2ª Conferencia Pan-americana na cidade do México.

O trabalho de José Hygino transformou-se numa coleção com 32 volumes e 11.500 páginas manuscritas em língua holandesa, hoje depositada no IAGP. O projeto Monummenta Hyginia da UFPE em parceria com a Embaixada dos Países Baixos e o Governo de Pernambuco tem por objetivo digitalizar a obra de Hygino e proporcionar o livre acesso a esta coleção.

sábado, 3 de setembro de 2011

O Forte do Brum

Está localizado junto ao porto do Recife na direção norte e teve sua construção iniciada pelos portugueses em outubro de 1629, sob a responsabilidade do engenheiro militar Diogo Paes, onde havia uma antiga trincheira. Seu objetivo era a proteção da barra de entrada do porto.

Com a invasão das tropas holandesas em Olinda e depois Recife, foi tomado em fevereiro de 1630 ainda em obras. Em maio daquele ano as obras da estacada dupla de madeira preenchida com areia foram re-iniciadas pelos engenheiros Tobias Commersteyn, Andréas Drewich e Pieter van Bueren, tendo sido denominado Forte Bruyne em homenagem ao conselheiro Johan Bruyne.

Em 1654 a Inssureição Pernambucana retomou o forte que foi batizado de Forte de São João Batista.

Foi palco de diversos episódios na Revolução Pernambucana de 1817, Confederação do Equador (1824) e Revolução Praieira (1848).

Durante a 1ª Guerra Mundial foi utilizado pela 2ª Bateria do 4º Batalhão de Posição. Permaneceu abandonado durante bom tempo, abrigando famílias de baixa renda, até 1938 quando foi tombado pelo IPHAN. Serviu como depósito da 7ª Região Militar e como posto de alistamento militar.

Atualmente administrado pelo Exército Brasileiro, sofreu pesquisa arqueológica em 1985 pelo Laboratório de Arqueologia da UFPE, em colaboração com o Comando Militar do Nordeste, a 7ª RM e a Fundação Joaquim Nabuco, encontrando-se restaurado e aberto ao público, onde funciona o Museu Militar do Forte do Brum, que exibe armamento e peças arqueológicas.

sábado, 13 de agosto de 2011

Mauritsstadt

"Havia na chamada ilha de Antônio Vaz (tal era o nome do antigo possuidor) ampla área de terreno entre o forte Ernesto e das Cinco Pontas, situado entre o Capibaribe e o Beberibe. Era uma planície sáfara, inculta, despida de arvoredos e arbustos, que por estar desaproveitada cobria-se de mato.

Não obstante, ao conde aprouve furtar aos olhos aquele terreno desnudo, sombreando-o com uma plantação de árvores não só para não ficar exposto às ofensas do inimigo, mas ainda para os cidadãos e soldados, durante as quadras ásperas, delas tirarem o alimento e o refrigério dos frutos, encontrando também ali os habitantes um abrigo seguro.

Por conseguinte, Nassau, para não pesar ao tesouro e prover ao bem público, adquiriu à sua custa aquele terreno, transformando-o num lugar ameno e útil tanto à sua saúde e segurança como à dos seus. O conde, edificando, teve o cuidado de atender à salubridade, procurando o sossego e obtendo a segurança do lugar, sem descurar também da amenidade dos hortos.

O palácio por ele construído tem duas torres elevadas, surgindo do meio do parque, visíveis desde o mar a uma distância de seis a sete milhas e servem de faróis aos navegantes. Ainda hoje pompeia, em seu esplendor, o palácio de Friburgo, protegendo a ilha de Antônio Vaz e deleitando os cidadãos, como perene monumento da grandeza nassóvia no outro hemisfério."

Gaspar Barléus: Rervm per octennivm in Brasilia...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Os Judeus no Brasil Holandês

Com a conquista de Pernambuco pelos holandeses, os judeus que viviam em grande número na Holanda, vindos principalmente de Portugal e Espanha além de outras partes da Europa como Alemanha e Polonia, fugindo da Inquisição, vislumbraram boas oportunidades no Brasil e passaram a emigrar para o Recife. Alguns cristãos-novos que já residiam em Pernambuco re-assumiram sua condição judaica sob o domínio e tolerância dos invasores da Cia. das Índias Ocidentais.

A partir da consolidação das conquistas no Brasil, o contingente de judeus cresceu e eles se estabeleceram como empreendedores em diversos ramos como o comércio do açúcar e do tabaco, cobrança de impostos, empréstimo de dinheiro e tráfico de escravos. A maioria dominava tanto o português quanto o holandês o que lhes conferiam imenso diferencial nos negócios. Tinham seu próprio cemitério, escolas e organizações de ajuda às viúvas e órfãos.

Em 1636, os principais comerciantes judeus compraram um terreno no Recife onde se instalaram. O local ficou conhecido como Jodenstraat ou Rua dos Judeus. Com a expulsão dos holandeses, foi rebatizada como Rua do Bom Jesus.

Chegando ao Recife em 1637, Nassau procurou desenvolver a tolerância entre os holandeses (calvinistas), portugueses (católicos) e judeus com o objetivo de incrementar o comércio e a paz entre esses povos. Segundo o professor Ronaldo Vainfas: "o conde de Nassau foi, sobretudo, um administrador de conflitos na sociedade pernambucana".

Nassau teve tanto sucesso na sua política com os judeus que estes, ao saberem de sua volta para a Europa, ofereceram ao conde, caso ele permanecesse no cargo, uma doação mensal de três mil florins, segundo o documento chamado Petição da Nação Hebraica.

terça-feira, 5 de julho de 2011

História dos Feitos Recentemente Praticados...

Tendo voltado para a Europa em 1644, Nassau encarregou o historiador e poeta belga Caspard van Baerle, mais conhecido pelo nome latino de Gaspar Barleus, de escrever um relato de suas atividades à frente do Brasil holandês.

Rervm per octennivm in Brasilia et alibi nuper gestarum, sub praefectura Illustrissimi Comitis I. Mavritti Nassoviae & c. Comitis, nunc Vesaliae Gubernatoris & Equitatus Foederatorum Belgii Ordd. sub Avriaco Ductoris (História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil e noutras partes sob o governo do Ilustríssimo Conde J. Maurício de Nassau, ora Governador de Wesel, Tenente-General da Cavalaria das Províncias Unidas, sob o Príncipe de Orange) foi publicado em latim em 1647 através da renomada tipografia Ioannis Blaeu de Amsterdã.

Mesmo nunca tendo estado no Brasil, Barleus teve acesso aos arquivos de Nassau e produziu um dos mais belos e importantes livros sobre o Brasil holandês e do século XVII, ricamente ilustrado com desenhos e mapas.

Originalmente o livro tinha 340 páginas no formato 49x29 cm, com 56 ilustrações, sendo 27 de Frans Post, mapas de Georg Marcgrave, um mapa de Cornelis Golijath e um retrato de Nassau por Theodoro Matham. Além de aspectos do Brasil, contém informações da África e do Chile. Nassau enviou exemplares da obra para diversos nobres europeus como divulgação de seus feitos nas terras de além-mar.

Foram publicadas edições em alemão (1659), holandês (1923) e português (1940). Em 1980 foi publicada uma edição pela fundação de Cultura da Cidade do Recife em homenagem ao terceiro centenário da morte de Nassau. O Instituto Ricardo Brennand possui dois exemplares desta obra, sendo um de 1659 e outro de 1660.

terça-feira, 28 de junho de 2011

As Moedas Holandesas

As primeiras moedas feitas no Brasil foram cunhadas pelos holandeses quando do cerco que sofreram em Recife pelas tropas luso-brasileiras. Foram chamadas de moedas obsidionais.

Sem meios para pagamento dos soldados, a Companhia das Índias Ocidentais produziu as moedas obsidionais com as marcas GWC (Gheoctroyeerde West-Indische Compagnie ou Cia. Privilegiada das Índias Ocidentais), Brasil e Anno 1645 ou 1646 (de acordo com o ano). As moedas foram cunhadas com o ouro de um carregamento destinado à Holanda e eram no valor de 3, 6 e 12 florins. Em 1654 com a rendição dos holandeses e a restauração pernambucana, ainda foram cunhadas moedas de prata, estas sem o nome Brasil.

Obsidional significa sítio, cerco ou risco de detenção.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Importância da Guerra Contra os Holandeses

O historiador Francisco Adolfo de Varnhagen destacou a enorme importância da resistência e reconquista do solo brasileiro, principalmente o pernambucano, no conflito contra o invasor holandês, comparado-o com a Guerra do Paraguai.

A Guerra do Paraguai foi o maior embate em território sul-americano, envolvendo Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, 400 mil combatentes e resultou na morte de cerca de 350 mil pessoas entre civis e militares. Durou de dezembro de 1864 até março de 1870 (menos de 6 anos).

Cita Varnhagen: "Estavamos a serviço em Petrópolis e ainda estava por decidir a titânica luta que o Brasil sustentou com o Paraguai e éramos testemunhas do desfalecimento de alguns, que já se queixavam de uma guerra de mais de dois anos. Para avivar-lhes a lembrança, apresentei-os o exemplo de outra mais antiga, em que o Brasil, ainda insignificante colônia, havia lutado 24 anos sem descanso e por fim vencido, contra uma das nações naquele tempo mais guerreiras da Europa".

terça-feira, 21 de junho de 2011

Os Nomes do Recife

Pero Lopes de Souza em seu Diário de 1532 trata o Recife como Barra do Arrecife.

Em 1537, o donatário da capitania de Pernambuco, Duarte Coelho Pereira, refere-se ao Recife como Ribeira do Mar dos Arrecifes dos Navios. Também era citada naquela época como Povo (povoado) dos Arrecifes.

James Lancaster, corsário inglês à serviço da Coroa britânica, invadiu o Recife em 1595 e fez um valiosíssimo saque. Ele chamava o local de Cidade Baixa.

No século XVII, com a tomada das capitanias do norte pelos neerlandeses da WIC, o povoado do Recife foi muito desenvolvido pelo Conde Maurício de Nassau, sendo denominado Maurícia ou Mauritsstad.

O governador de Pernambuco, Sebastião de Castro Caldas, no dia 19 de novembro de 1709, elevou o Recife à categoria de vila com a designação de Santo Antônio do Recife, restringindo-se seu território aos atuais bairros do Recife, Santo Antônio e São José. As outras localidades como Várzea, Boa Vista, Afogados e Jaboatão continuavam vinculadas a Olinda.

O Recife passou à categoria de cidade pela Carta Imperial de 5 de dezembro de 1823 e a capital de Pernambuco em 15 de fevereiro de 1827.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Arraial Novo do Bom Jesus

Por determinação do mestre-de-campo João Fernandes Vieira, inicou-se em setembro de 1645 a construção de uma fortificação na zona oeste do Recife, próximo à várzea do Capibaribe, ficando conhecida posteriormente por Forte ou Arraial Novo do Bom Jesus.

Era destinado a armazenar víveres e material bélico para as tropas luso-brasileiras na guerra contra os holandeses e estava armado com canhões conquistados aos invasores em outras localidades.

Concluída sua construção de terra batida em janeiro de 1646, foi o ponto inicial do movimento das forças aliadas que venceram os holandeses nas duas batalhas dos Guararapes em 1648 e 1649 e na reconquista do Recife e Maurisstadt em 1654.

Localizado no atual bairro do Engenho do Meio, em uma praça na Av. do Forte, possui uma coluna comemorativa erguida pelo Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco em 1872 e restaurado em 1917. Atualmente não existe nenhuma ação de recuperação ou pesquisa arqueológica no local.

A Organização Político-administrativa do Brasil Holandês

Pouco tempo após sua chegada ao Brasil, Nassau preocupou-se com a desorganização do sistema administrativo da colônia e começou a providenciar os meios de colocar seus domínios em ordem.

Os holandeses já tinham o Alto Conselho Secreto presidido pelo próprio Conde de Nassau e composto por 3 membros que cuidava do Estado, do Governo Civil e da guerra, e o Conselho Político e de Justiça. Foram então criadas as Câmaras de Escabinos semelhantes às câmaras municipais dos portugueses. Essas Câmaras eram compostas de portugueses, brasileiros e holandeses, devendo todos os membros ter a aprovação de Nassau.

Foram criadas as Câmaras de Olinda, Igarassu, Sirinhaém, Porto Calvo e Alagoas; Paraíba, Itamaracá e Rio Grande. Continuou ainda a divisão em Capitanias (Rio Grande, Itamaracá e Pernambuco), sendo agora administradas por um governador designado pelo Conselho Secreto.

Vale lembrar, que a Capitania de Pernambuco englobava o atual território de Alagoas até o rio São Francisco, existindo a Capitania de Itamaracá entre a de Pernambuco e a da Paraíba.

domingo, 12 de junho de 2011

Províncias Unidas, Países Baixos, Holanda

A República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos, Republiek der Zeven Verenigde Nederlanden (holandês) ou Belgica Foederata (latim) foi fundada em 23 de janeiro de 1579 pela União de Utrecht durante a Guerra dos 80 Anos contra o império espanhol, onde era reconhecido o direito de cada província a manter as suas tradições, a união militar de todas elas e a liberdade de culto religioso.

As Sete Províncias Unidas eram Frísia, Groningen, Güeldres, Holanda, Overijssel, Utrecht e Zelândia. Existiu até 1795 quando da invasão francesa por Bonaparte, surgindo então a República Batava.

No século XVII os Países Baixos tiveram o chamado Século de Ouro ou Idade de Ouro Neerlandesa onde estenderam seu império colonial por todo o mundo, destacando-se na ciência, cultura e comércio. É considerada a primeira potência capitalista ocidental, com suas Companhias das Índias Ocidentais e Orientais surgindo como as grandes multinacionais da época.

sábado, 28 de maio de 2011

Descrição de Olinda e Recife

Dentro da vila de Olinda habitam inumeráveis mercadores com suas lojas abertas, colmadas de mercadorias de muito preço, de toda sorte, em tanta quantidade que semelha uma Lisboa pequena.

A barra do seu porto [Recife] é excelentíssima, guardada de duas fortalezas bem providas de artilharia e soldados que as defedem; os navios estão surtos da banda de dentro, seguríssimos de qualquer tempo que se levante posto que muito furioso, porque tem sua defensão grandíssimos arrecifes onde o mar quebra. Sempre se acham nele ancorados, em qualquer parte do ano, mais de trinta navios, porque lança de si, em cada um ano, passante de 120 carregados de açúcares, pau do brasil e algodões.


Diálogos das Grandezas do Brasil, Ambrósio Fernandes Brandão (1615).

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Arraial do Bom Jesus

Após terem sido expulsos de Olinda e do Recife os portugueses e seus aliados iniciam a fortificação da casa de Antônio Abreu a cerca de uma légua ao norte do Recife, passando a ser chamado de Forte Real ou Arraial do Bom Jesus.

Durante 5 anos o Arraial do Bom Jesus serviu como base para a guerrilha das forças de Henrique Dias, Felipe Camarão, Luís Barbalho, Martin Soares Moreno e outros bravos contra os holandeses.

Depois de diversas tentativas e um cerco de mais de 3 meses, em 06 de junho de 1635, os heróis do Arraial do Bom Jesus rendem-se às tropas do coronel polonês Chrestofle Arcizewsky por não disporem de mais nenhum alimento ou munição. Uma centena de pessoas foge com Matias de Albuquerque em direção à Bahia.

Apesar das garantias dadas pelos invasores, os habitantes do Arraial tiveram que pagar altas somas aos holandeses para poder sair do forte com vida e ainda assim, sofrendo alguns, cruéis torturas. Foram arrecadadas grandes somas em ouro, prata, jóias e vinho.

O Arraial do Bom Jesus estava localizado onde hoje existe o Sítio da Trindade, no bairro de Casa Amarela.

sábado, 12 de março de 2011

Parabéns Recife e Olinda

Hoje é aniversário das cidades irmãs e vizinhas: Recife e Olinda.

Parabéns Recife, 474 anos e Olinda 476 anos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Mauritsstad

Fixando residência na ilha de Antônio Vaz, Maurício de Nassau decide urbanizar o local através de projeto arquitetônico de Pieter Jansz Post, irmão mais velho de Frans Post e respeitado arquiteto holandês.

Em 16 de dezembro de 1639, Gaspar Dias Ferreira, membro da Câmara de Escabinos de Olinda, propõe mudar o nome do local para Cidade Maurícia ou Mauritsstad. Cinco dias depois Nassau e o Alto Conselho aprovam a proposta.

A principal construção ali foi o Palácio Friburgo, também conhecido como Palácio das Torres, residência oficial de Nassau. Havia nos terrenos vizinhos ao palácio um jardim e pomar onde eram introduzidas e estudadas árvores e plantas de diferentes partes do mundo e um zoológico com animais nativos e da África. O palácio estava localizado onde atualmente existe o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, o Teatro Santa Isabel e o Palácio da Justiça. Nas proximidades também estava instalado o Forte Ernesto no antigo Convento de Santo Antônio.

Também foi construída na ilha a Igreja dos Calvinistas Franceses, prédio que copiava a Catedral de Haarlem na Holanda, além de saneamento e calçamento de diversas ruas.

Nassau fez construir a primeira ponte de grandes proporções (318 m) do Brasil, ligando Mauritsstad ao Recife, além de uma ponte ligando Mauritsstad ao continente e outra sobre o Rio Afogados.

Outro palácio foi construído pelo conde como residência particular, o Palácio da Boa Vista (Schoozit), aonde hoje existe a Basilica de Nossa Senhora do Carmo.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A Babel das Américas

Com a invasão dos holandeses em Pernambuco, a Cia. das Índias Ocidentais, uma verdadeira multinacional do século XVII, trouxe uma multidão de gente de todos os lugares do mundo.

Além dos índios, a quem os holandeses chamavam de brasilianner já viviam na povoação dos Arrecifes os negros escravos, vindos de diversas regiões da África, os colonizadores portugueses e os espanhóis, desde a junção das coroas lusa e hispana em 1580. Os nascidos no Brasil eram conhecidos como mazombos. Os índios falavam principalmente o tupi-guarani, além do gê e do cariri., enquanto os negros, o banto e o sudanês. 

Junto com os holandeses, veio também a tolerância religiosa, determinada mesmo em um regimento dos Estados Gerais dos Países Baixos. Aos judeus e cristãos-novos que já viviam em Pernambuco (apesar da Inquisição) juntaram-se outros vindos de toda Europa. Os judeus de origem Ibérica, os sefarditas, usavam um idish mesclado ao espanhol.

Com os imigrantes judeus em conjunto com os mercenários e funcionários da Cia. das Índias Ocidentais era comum ouvir-se nas ruas do Recife as mais diversas línguas tais como: holandês, alemão, inglês, francês, norueguês, castelhano e português, além de dialetos ameríndios e africanos.