A Capitania de Pernambuco foi surpreendida pela enorme esquadra neerlandesa que surgiu no litoral de Olinda no dia 12 de fevereiro de 1630. Matias de Albuquerque, neto de Duarte Coelho (primeiro donatário de Pernambuco), já havia sido alertado de que a Companhia das Índias Ocidentais – WIC, preparava uma força de invasão com destino ao Brasil, mas o tamanho da expedição, 70 navios e mais de 7.000 homens, não era imaginado.
A pequena força defensiva luso-brasileira consegue conter os invasores por
apenas um mês, e Olinda e o Recife são tomadas pelos mercenários da WIC. Os veteranos entre os militares da
companhia neerlandesa tinham uma experiência de combate de décadas, pois lutavam
na Europa desde a guerra de independência contra a Espanha, a Guerra dos
Oitenta Anos, que teve início em meados do século XVI.
Perdidos os principais pontos de resistência e da guerrilha dos locais,
tendo como ponto principal a queda do Arraial do Bom Jesus em 1635, só resta ao
comandante Matias de Albuquerque levar a população que não queria ficar sob o
jugo neerlandês e o restante das tropas numa jornada de 300 léguas até o Rio
São Francisco, por matas e caminhos cheios de perigos naturais e inimigos.
Sem poder enfrentar os invasores de igual para igual, visto a diferença
entre o poder militar neerlandês e a milícia local, composta em sua maioria de
civis transformados em combatentes, os luso-brasileiros empregavam a tática de
guerrilha, esperando os homens da WIC
saírem de suas fortificações para embosca-los em locais ermos ou quando alguns
se aventuravam em conseguir alimentos, água ou lenha. Com pouquíssimas armas de
fogo, empregavam algumas poucas armas brancas e armas improvisadas, como lanças
feitas de paus com as pontas endurecidos ao fogo e porretes.
O povo de Pernambuco sofreu a perseguição dos invasores desde a chegada
destes a Olinda e ao Recife, seja por motivos militares, econômicos ou
religiosos. Alguns poucos se aliaram aos neerlandeses em busca de ganhos
materiais, mas a grandíssima maioria combateu-os de diveras formas, tanto com
armas como com ações de ajuda moral e material.
Não só os homens tomaram a si a incumbência de defender a terra. Veja-se o
exemplo das mulheres de Tejucupapo, local próximo ao litoral norte de
Pernambuco, onde um grupo de moradoras expulsou uma tropa de holandeses que
queriam aproveitar-se da ausência dos homens para levar os alimentos da
povoação e foram escorraçados.
Lutando mais coordenadamente desde 1645 com a Insurreição, depois de nove
anos e das batalhas do Monte das Tabocas, Casa Forte e Guararapes, os invasores
neerlandeses foram vencidos e expulsos no início de 1654.
Pela desconsideração da Coroa Portuguesa em atender às demandas dos homens
da terra, principalmente no preenchimento dos principais cargos públicos da
Província de Pernambuco, ocorreram diversas revoltas nos séculos XVIII e XIX
que tiveram como principal justificativa a restauração do território
pernambucano pelos próprios naturais da terra contra os holandeses, com
pouquíssima intervenção de Portugal. Observe-se a Guerra dos Mascates (1710),
Revolução de 1817, Revolta da Junta de Goiana (1821), Confederação do Equador
(1824) e Revolução Praieira (1848).
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