terça-feira, 21 de maio de 2024

Bento Teixeira

O cristão novo português Bento Teixeira chegou ao Brasil em 1567 no Espírito Santo. Era natural da cidade do Porto, tendo nascido em data incerta por volta de 1561. Posteriormente seguiu com seus pais para o Rio de Janeiro e depois para a Bahia onde ficou órfão.

Ele estudou nas escolas dos padres jesuítas desde sua infância no Espirito Santo até chegar em Salvador, sendo elogiado por sua dedicação aos estudos dos clássicos latinos. Tornou-se mestre escola, ensinando a ler e escrever. Também fazia traduções do latim.

Tendo casado em Ilhéus com Filipa Raposa, algum tempo depois mudou-se para Olinda e abriu uma escola para moços na Rua Nova, onde leciona leitura, escrita e as práticas católicas. Como a subvenção que recebia da Câmara de Olinda foi retirada, transferiu-se para Igarassu. Pelas traições praticadas por sua esposa, volta para Olinda. Como Filipa continuou com a infidelidade conjugal, Bento Teixeira vai para o Cabo de Santo Agostinho, onde permanece com a instrução de jovens.

Pelos frequentes adultérios de sua esposa, Bento termina por matá-la e procura refúgio no Mosteiro de São Bento, Olinda. Por desavenças com Frei Damião da Fonseca, abade daquela casa e assessor do Visitador do Santo Ofício, desconfiava ele ter sido denunciado pelo abade à Inquisição.

Apresentou-se espontaneamente em 21 de janeiro de 1594 ao Visitador do Santo Ofício em Olinda, Heitor Furtado de Mendonça, para confessar suas ações judaizantes. Diante do que ouviu dele e de outras pessoas, foi preso em 19 de agosto de 1595 por ordem do Visitador. Um mês depois, o preso apresentou um requerimento de defesa onde pede a ouvida de várias testemunhas que podiam atestar sua fé católica.

Em 22 de outubro de 1595 Bento Teixeira e outros presos pelo Santo Ofício partiram do Recife para Lisboa, tendo aportado em 01 de janeiro de 1596, sendo transferido sete dias depois para o Paço dos Estaus, sede da Inquisição em Lisboa. Seu processo na Inquisição de n° 5.206 teve início em 28 de fevereiro de 1596 e ouviu várias testemunhas em Lisboa e em Olinda que falaram tanto dos ensinamentos proferidos por Bento Teixeira como de suas discursões ácidas com muitas pessoas de seu convívio.

Receoso das muitas denunciações feitas contra ele e de não obter o perdão, resolve contar a verdade. Disse que sua mãe praticava o judaísmo e ele a acompanhava, também participando de reuniões com judeus, do que pedia perdão. Além dos depoimentos, escreveu algumas confissões aos inquisidores.

Em 03 de dezembro de 1598 foi dado parecer de que o réu deveria ser recebido à reconciliação da Santa Madre Igreja no cárcere e com uso de hábito penitencial perpétuo, por ter confessado suas culpas, pedido perdão e mostrar-se arrependido. A sentença foi lida a Bento Teixeira no Auto de Fé público dia 31 de janeiro de 1599. Ele foi transferido para o cárcere das Escolas Gerais onde “deverá ser instruído nas coisas da fé necessárias à salvação da sua alma”. Em outubro do mesmo ano pediu sua soltura, o que lhe foi concedido no dia 30 daquele mesmo mês. Deveria permanecer morando em Lisboa, donde não poderia sair sem prévia autorização da Mesa da Inquisição, além de manter o uso do hábito penitencial, o sambenito.

Bento Teixeira foi o autor da primeira obra literária escrita no Brasil, em 1593, Prosopopea, dedicada ao governador da Capitania de Pernambuco, então denominada Nova Lusitânia, Jorge d’Albuquerque Coelho.  

Tendo falecido em julho de 1600, não viu seu trabalho ser impresso e publicado em 1601 pela oficina de Antônio Alvarez em Lisboa. Apesar de suas questões com o Santo Ofício, os inquisidores não encontraram coisa que obstasse a publicação do seu poema épico.

Apenas em 1872, Francisco Adolfo de Varnhagen, diplomata e historiador brasileiro encontrou um exemplar da Prosopopea na Biblioteca Pública de Lisboa e no mesmo ano outro exemplar foi localizado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro por Benjamin Franklin Ramiz Galvão, bibliotecário daquela instituição. Em 1873 a Bibliotheca Nacional e Publica do Rio de Janeiro publicou, com autorização do Governo Imperial, uma reimpressão idêntica à edição de 1601.

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