sexta-feira, 6 de setembro de 2024

O RECIFE - Lúcio Costa

O Recife não é terra

É mar, é rio, é ponte

É mesmo muito mangue

É frevo e maracatu

 

O Recife é o arrecife

Tentando conter o mar

Fazendo jangada a ciranda jogar

Levando peixe e pescador pra lá e pra cá

 

O Recife é graviola, manga e carambola

É cana, cachaça e caranguejo

Engenho de açúcar e senzala

É sapoti, pitomba e mangaba

 

O Recife não é Veneza

É cheia do Capibaribe, maré e mangue

Lama, massapê e canavial

No ritmo do vento e do frevo

 

Gilberto Freyre e Reginaldo Rossi

Josué de Castro e Chico Science

Capiba e Claudionor Germano

Naná Vasconcelos e Nassau

 

Português e holandês

Inglês e italiano

Alemão e turco

Negro, índio e mameluco

 

Católico e judeu

Muçulmano e umbandista

Calvinista e Batista

Iemanjá e Conceição

 

Engenho, moenda e carro de boi

Escravo e feitor

Senhora e senhor

Capela e caldeira, reza e fogueira

 

Açúcar sem liberdade

Casa grande e pobreza

Ouro branco e grilhão negro

Escravidão e tristeza

 

Bolo de rolo e beiju

Vinho do Porto e mandioca

Bacalhau e tapioca

Queijo do reino e cocada

 

Água doce e salobra

Areia e lama cheirando a merda

Mar e maresia

Que depende da Lua, da noite e do dia

 

E claro, tubarão, que veio ver com certeza

Como a cidade se equilibra

Entre o céu e o mar

Entre o arrecife e o manguezal

 

Oxe, oxente

Corso, serpentina e confete

Passo e compasso que equilibra

Na frevança que rodopia e desequilibra

 

Capibaribe e Beberibe

Capivara e arraia

A terra junta pelas pontes

A cidade que surgiu do mangue