O porto de Pernambuco
está situado a uma légua ao norte da cidade com uma estreita passagem para
entrar, pelo que, passado o castelo que está no recife, deve-se virar logo para
o sul, encostado às pedras. Estas pedras ou recifes tem o comprimento de uma
légua e estendem-se norte-sul, ao longo da costa, nivelados, sendo a largura de
oito a dez passos de um extremo a outro, atrás dos quais ficam os navios
protegidos como por um dique. Em certos lugares estes recifes erguem-se seis
pés acima da água, noutros oito pés, para o norte onde ancoram os navios.
No preamar as águas rebentam por cima em dois ou três pontos e, para o sul, ficam as pedras um ou
dois pés debaixo dágua. Na ponta norte dos mesmos, chamada Ponta de Marim, está
o pequeno Castelo, mais ou menos à distancia de um arremesso de funda da terra
firme, havendo que navegar entre aqueles e esta para chegar ao ancoradouro. O
canal é muito estreito quando se vem de fora e a profundidade, mesmo com a maré
alta, não passa de 22 pés. Para entrar, corra
junto ao Castelo na referida ponta, mas não a menos de um tiro de pedra por
causa de três ou quatro escolhos a bombordo. E, a estibordo, há um banco de
pedra sobre qual o mar arrebenta até a meia maré, rolando por cima na preamar.
Este banco estende-se
ao longo da costa até a ponta de Pernambuco duas milhas para o norte. O mar
corre por cima mas poupa mas poupa o castelinho do recife sem lhe causar dano.
Uma vez passado este, pique-se a barlavento entre a terra firme e o recife mais
perto deste do que de terra por causa do outro banco que está ligado à costa,
onde às vezes não há arrebentação. Este banco fica bem em frente ao castelo de
terra firme. Passe o mais rente possível junto ao recife, que, sendo a pique,
quase permite saltar, mas à distancia de duzentos passos do fortim para o sul,
interrompe-se o recife, pelo que convém afastar-se um pouco, navegando-se em
seguida ao longo até chegar ao meio do povoado que está a estibordo, em terra
firme.
Segure o navio com
quatro cordas, à meia amarra, no recife; duas à popa e duas à proa; e lance
ancoras do lado da povoação, também à popa e à proa, para permanecer ancorado
em posição norte sul por causa da vazante e da cheia.
Esta
orientação está no livro Toortse der Zee-Vaert (A Tocha da Navegação) do navegador holandês Dierick Ruyters,
publicado em 1623 na cidade de Vlissighen, Zeelandia. Ruyters esteve presente
no Brasil em várias ocasiões, inclusive nas invasões de Salvador e Olinda como
piloto das frotas da WIC. Seu livro demonstra o vasto conhecimento que os
holandeses tinham sobre o Brasil mesmo antes de atacarem-no.
Algumas observações são importantes: a) o porto de Pernambuco, Recife, está ao sul da cidade, Olinda, e não ao norte; b) o pequeno Castelo é o Forte do Mar, sobre os arrecifes; c) o castelo de terra firme é o Forte de São Jorge no istmo entre o Recife e Olinda.
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