Com a invasão de Pernambuco
pela expedição da Companhia das Índias Ocidentais em fevereiro de 1630,
Portugal teve bloqueado o mais importante porto marítimo brasileiro para a
exportação do açúcar, o Recife. Além do principal produto da colônia, havia o
envio de fumo, pau-brasil e de outras madeiras nobres para a Portugal, sem
contar com uma infinidade de mercadorias que chegavam da Europa para o Brasil
através do porto do Recife.
A alternativa mais próxima
foi a utilização do porto de Nazaré no Cabo de Santo Agostinho, distante cerca
de 40 km ao sul do Recife. Mesmo assim, o acesso a esse ponto era muito dificultado
pelo bloqueio naval imposto pelos invasores.
O Cabo de Santo Agostinho apesar
de conhecido pelos navegantes de há muito, foi documentado em 26 de janeiro de
1500 pela expedição do espanhol Vicente Yáñez Pinzón que
ancorou na enseada de Nazaré. A denominação do cabo foi dada por Américo Vespúcio, que esteve no local em 1501. Apesar de não ter grandes altitudes, o relevo do
local se destacava das terras ao redor facilitando sua localização desde o
oceano. Implantadas as capitanias hereditárias em 1534, o local estava contido
na capitania de Pernambuco, de Duarte Coelho. No entanto, a colonização só foi
implementada quase trinta anos depois por Duarte Coelho de Albuquerque, filho
do primeiro donatário e seu sucessor na capitania. Ele expulsou os índios Caetés
e distribuiu sesmarias onde foram plantadas lavouras de cana de açúcar e
construídos engenhos por toda de região de Nazaré do Cabo.
Em 1627 alguns iates
neerlandeses apresaram navios portugueses ao largo do Cabo. As
pilhagens continuaram ano seguinte e outras naus de Portugal transportando
açúcar, pau-brasil e tabaco foram tomadas pelos neerlandeses no litoral do Cabo
de Santo Agostinho. Após a conquista de Olinda e do Recife em 1630 o Conde de Bagnuolo,
designado comandante das tropas em Pernambuco e Matias de Albuquerque determinam
a instalação de duas baterias na enseada de Calhetas, ao norte do porto de Nazaré, no final de 1631.
Já em março de 1632 os homens
da Companhia das Índias Ocidentais em dezoito navios sob comando do
tenente-coronel Steyn Callenfels tentavam conquistar o porto desembarcando em
Calhetas e atacando as baterias de Nazaré. As tropas da WIC são rechaçadas pela guarnição do fortim e voltam para o Recife.
Visando melhorar a defesa do porto os portugueses constroem outro forte mais ao
sul, também denominado Forte de Nazaré.
Dois
anos depois da primeira tentativa os holandeses atacam o Cabo de Santo
Agostinho novamente com um desembarque na praia de Itapuama, bem mais ao norte
do porto, mesmo assim sem sucesso. No dia seguinte, 05 de março de 1634, outros
barcos da WIC penetram pela barra do
porto do Cabo e fundeiam próximo à povoação do Pontal de
Nazaré, desembarcando suas tropas, inclusive Domingos Calabar. Os locais
queimam as casas e armazéns, mas os holandeses ainda tomam 1.300 caixas de açúcar
e grande quantidade de pau-brasil. Em 06
de março Matias de Albuquerque traz tropas do Arraial do Bom Jesus para
combater os invasores e no dia seguinte conseguem
retomar algumas posições, mas são vencidas com a ajuda da artilharia dos navios
ancorados no litoral.
No dia 08 de junho de 1635
cai o Arraial do Bom Jesus, a última e mais importante fortificação
luso-brasileira no entorno do Recife. Alguns dias depois o coronel Chrestofle Arciszewski
parte do Arraial com suas tropas em direção ao Cabo de Santo Agostinho. Em 02
de julho o restante da guarnição do Forte de Nazaré rende-se aos comandados de
Arciszewski. A maioria dos defensores havia partido acompanhando a coluna
chefiada por Matias de Albuquerque com destino às Alagoas. Os portugueses não
tem mais nenhum bom porto em Pernambuco para enviar mercadorias ou receber tropas,
armas e suprimentos para combater os invasores.
Somente
com a chamada Insurreição Pernambucana a partir de 1645 é que as tropas
luso-brasileiras retomam o Forte de Nazaré. Em 03 de setembro o capitão Van Hoogstraeten,
com a participação do coronel Casper van der Ley e Albert Gerritsz Wedda entregam
a fortificação a troco de 6 mil cruzados, supostamente para pagamento do soldo
atrasado da guarnição.
Um dos
objetivos do efetivo neerlandês que participou da primeira batalha dos Montes Guararapes em 18 de abril de 1648 era retomar a Muribeca e o Cabo de Santo Agostinho para interromper o fluxo de
suprimentos para os insurretos, já que o Recife continuava nas mãos dos neerlandeses,
que ainda tinham o domínio de boa parte do litoral nordestino.
A importância do Cabo
de Santo Agostinho e do seu porto ainda estão presentes em Pernambuco, haja
vista a implantação do Porto de Suape, um pouco ao sul dos locais mencionados
no texto acima, sancionado em 1978 pelo governo pernambucano. É o quinto maior
porto brasileiro e em seu entorno instalou-se um complexo industrial.
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