Nasci (no Recife) numa
rua que tinha o nome ilustre de Joaquim Nabuco, o grande abolicionista dos
escravos, nos tempos do Império. A casa em que nasci tinha ao lado um grande
viveiro de peixes, de caranguejos e de siris. Se não nasci mesmo dentro do viveiro,
como os caranguejos, já com dois anos estava dentro dele.
O
grande Recifense Josué Apolônio de Castro nasceu no dia 05 de setembro de 1908
e atuou como médico, geógrafo, professor e principalmente, no combate à fome.
Escreveu livros traduzidos em todo mundo: Geografia da Fome, Geopolítica
da Fome, Sete Palmos de Terra e Um Caixão e Homens
e Caranguejos.
Foi
presidente do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e Embaixador brasileiro na ONU.
Foi deputado federal por Pernambuco em dois mandatos. Durante
o Regime Militar teve cassados seus direitos políticos enquanto era embaixador
em Genebra, indo asilar-se em Paris.
Recebeu
o Prêmio Franklin D. Roosevelt da Academia de Ciências Políticas dos Estados
Unidos, o Prêmio Internacional da Paz do Conselho Mundial da Paz e a comenda de Oficial da Legião de Honra da França. Foi indicado ao Premio Nobel da Paz nos anos de
1953, 1963, 1964 e 1965.
Faleceu
ainda em Paris em 24 de setembro de 1973, estando enterrado no cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro.
Bem ao lado da casa
começava a zona compacta dos mocambos, das choças de palha e de barro,
amontoadas umas por cima das outras num enovelado de ruelas, numa anarquia
desesperadora. As casas entrando por dentro da maré, a maré invadindo as casas.
Os braços do rio passando pelo meio da rua e a lama envolvendo tudo.
Criei-me nos mangues
lamacentos do Capibaribe cujas águas, fluindo diante dos meus olhos ávidos de
criança, pareciam estar sempre a me contar uma longa história.
Eu ficava horas e horas
imóvel sentado no cais, ouvindo a história do rio, fitando as suas águas
correrem como se fosse uma fita de cinema. Foi o rio o meu primeiro professor
de história do Nordeste, da história desta terra quase sem história. A verdade
é que a história dos homens do Nordeste me entrou muito mais pelos olhos do que
pelos ouvidos. Entrou-me por dentro dos meus olhos ávidos de criança sob a
forma destas imagens que estavam longe de serem sempre claras e risonhas. Josué de Castro, 1967.
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