Existe na Igreja Evangélica de Siegen, centro-oeste da Alemanha, uma bacia
dourada que serve de pia batismal. O objeto mede cerca de 50 cm de diâmetro por
12 cm de fundo.
O Conde Maurício de Nassau recebeu essa bacia como presente quando da
visita de uma delegação do Rei do Congo, D. Garcia II, ao Recife em 1643. Os
africanos buscavam a intermediação de Nassau para disputa com o Conde de Sonho (Mani Sonho) também do Congo,
que enviou seus embaixadores ao Recife, pouco depois. A região do Sonho foi a primeira a manter contato com os portugueses em 1483 por ser um porto importante na foz do Rio Congo.
Em 1956, o historiador e arqueólogo alemão Friedrich Muthmann determinou,
por comparação, que a bacia era originária da região de Cuzco, Peru, datando a
peça por volta de 1580. Tinha sido produzida em prata, principal riqueza
explorada pelos espanhóis no Novo Mundo. Segundo a Dra. Mariana Françozo, a
peça deve ter sido usada como pagamento no tráfico de escravos pelos
portugueses e assim chegou a Angola, na costa ocidental africana.
Descomissionado pela Companhia das Índias Ocidentais do seu cargo de
governador do Brasil holandês, o Conde Maurício de Nassau volta à Europa em
1644, levando entre seus tesouros e curiosidades a bacia de prata peruana.
Elevado a Príncipe do Sacro Império Romano-Germânico em 1653, Maurício de
Nassau viajou para Frankfurt em 1658 como representante do Grande Eleitor de
Brandenburgo, Friedrich Wilhelm. Lá, encaminhou a bacia de prata ao ourives
Hans Georg Bauch, encomendando-lhe que a revestisse de ouro e que adaptasse um
pedestal, além de inserir no centro da peça o brasão de armas de Nassau.
Depois de pronta, a
bacia foi doada pelo Conde Maurício de Nassau para a Igreja Evangélica de
Siegen, onde permanece até hoje. A bacia, além do brasão de Nassau, possui em
sua borda de 6,5 cm diversas figuras de animais, pessoas, prédios e plantas.
Essa curiosa peça, originária da América andina, cruzou toda a América do Sul
para ser enviada através do Atlântico sul para a África ocidental. Daí, volta,
pelo mesmo oceano, para o Recife no litoral nordeste do Brasil. Por fim, cruza
o Oceano Atlântico pela terceira vez, agora até o norte da Europa. Observam-se
assim os caminhos dos interesses políticos e comerciais das potências do século
XVII na parte ocidental do mundo.
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