Do rio de Igaruçu ao porto da vila
de Olinda são quatro léguas, e está em altura de oito graus. Neste porto de
Olinda [Recife] se entra pela boca de um arrecife de pedra ao su-sudoeste e
depois norte-sul; e, entrando para dentro ao longo do arrecife, fica o rio
Morto, pelo qual entram até acima navios de 100 tonéis até 200, tomam meia
carga em cima e acabam de carregar onde chamam "o Poço", defronte da
boca do arrecife, onde convém que os navios estejam bem amarrados, porque trabalham
aqui muito por andar neste porto sempre o mar de levadio; por esta boca entra o
salgado pela terra dentro uma légua ao pé da vila; e defronte do surgidouro dos
navios faz este rio outra volta deixando no meio uma ponta de areia onde está
uma ermida do Corpo Santo.
Neste lugar vivem alguns pescadores
e oficiais da ribeira, e estão alguns armazéns em que os mercadores agasalham
os açúcares e outras mercadorias; e desta ponta da areia da banda de dentro se
navega este rio até o varadouro, que está ao pé da vila, com caravelões e
barcos, e do varadouro para cima se navega com barcos de navios obra de meia
légua, onde se faz aguada fresca para as naus da ribeira que vem do engenho de
Jerônimo de Albuquerque; também se metem neste rio outras ribeiras por onde vão
os barcos dos navios a buscar os açúcares aos paços onde os trazem encaixados e
em carros; este esteiro e limite do arrecife é muito farto de peixe de redes
que por aqui pescam e do marisco; perto de uma légua da boca deste arrecife
está outro boqueirão, que chamam a Barreta, por onde podem entrar barcos
pequenos estando o mar bonançoso.
Desta Barreta por diante corre este arrecife ao longo da terra duas léguas, e entre ela e ele se navega com barcos pequenos que vêm do mar em fora, e quem puser os olhos na terra em que está situada esta vila, parecer-lheá que é o cabo de Santo Agostinho, por ser muito semelhante a ele.
Tratado
Descritivo do Brasil em 1587
Capítulo XV
Capítulo XV
Gabriel Soares de
Sousa
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