Considerada a mais bela vila
da América portuguesa, Olinda vivia em glória até que os mercenários da
Companhia das Índias Ocidentais desembarcaram e tomaram suas praias e ladeiras
em fevereiro de 1630.
Frei Manuel Calado do
Salvador, em seu livro o Valeroso
Lucideno apresenta o esplendor da capital do Pernambuco colonial: Era aquela república antes da chegada dos
holandeses a mais deliciosa, próspera, abundante e não sei se me adiantarei
muito se disser a mais rica de quantas ultramarinas o reino de Portugal tem
debaixo de sua coroa e cetro. O ouro, a prata eram sem número e quase não se
estimava; o açúcar tanto que não havia embarcações para o carregar.
Os invasores então se ocuparam em saquear toda
aquela riqueza, se embebedando com o vinho que encontravam nas casas
abandonadas, com as mesas repletas de comida, e por vezes também violadas pelos
escravos negros repentinamente livres de seus senhores em fuga.
Ocupada a vila e o seu
porto, o Recife, então apenas local de moradia de pescadores e marujos, as
autoridades neerlandesas preocuparam-se em fortificar Olinda prevendo a ação
dos luso-brasileiros para retomar seus domínios. Após a vistoria de militares e
engenheiros, chegaram à conclusão de que seria inviável uma fortificação
eficiente de todos os montes autodominantes que formavam o terreno. Ocupando
uma elevação, esta poderia ser atacada pelo inimigo que ocupasse outra elevação
próxima, e a WIC não poderia dispor
de tantos soldados assim, pois precisava de todo seu efetivo para ampliar a
conquista nas outras capitanias.
O comandante da expedição,
almirante Hendrick Corneliszoon Lonck, escreve ao Conselho dos XIX, diretoria
da WIC nos Países Baixos,
pedindo permissão para abandonar Olinda, concentrando as tropas no Recife. O
pedido é negado pois os Heeren XIX não
podiam compreender porque se deveria abandonar a sede da capitania. Após diversas
tentativas de convencer a WIC e
os Estados Gerais da necessidade de concentrar esforços no Recife para poder
atacar outros locais, o Príncipe Frederik Hendrik, autoriza aos seus
comandantes que abandonem Olinda.
Em 17 de novembro de 1631 tem
início a demolição dos prédios de Olinda e a retirada do material de
construção, que era muito escasso, para o Recife. Em 24 de novembro a vila de
Olinda é incendiada em vários pontos e quase totalmente arrasada. Segundo
Duarte de Albuquerque Coelho, Olinda possuía 2.500 habitantes, quatro
conventos, um colégio dos jesuítas e uma Casa de Misericórdia. Fica proibida
qualquer nova construção na outrora bela vila.
Passados três séculos, a
Marim dos Caetés é alvo de outro invasor, agora muito mais poderoso. As praias
da região sul de Olinda, Milagres e Carmo, além das de São Francisco e do
Farol, são fustigadas pelo avanço implacável do mar, que vai consumindo ruas e
casas.
O primeiro registro da ação
do mar em Olinda é de 1914, por conta das obras de ampliação do Porto do Recife
iniciadas em 1909. A primeira rua a ser destruída na Praia dos Milagres foi a
Rua do Nascente que ficava na beira mar, seguida pela Rua dos Milagres.
No início do século XX
estava em voga a terapia pelos banhos salgados, a talassoterapia, e várias
casas de veraneio e balneários (lojas de aluguel de roupas de banho) foram
construídas onde havia apenas choupanas de pescadores e casebres. Tudo foi sendo
irremediavelmente levado pelo mar.
Até
o presidente Juscelino Kubitscheck veio a Olinda em 1955 para reunião com o
prefeito Barreto Guimarães que solicitava verbas para as obras de contenção. Em 1960 o então deputado Josué de Castro fez pronunciamento no Congresso Nacional sobre o tema, falando das demandas de Barreto Guimarães para conseguir ajuda federal a fim de conter o avanço do mar e a destruição dos terrenos e prédios da cidade.
Foram contratados estudos
aos Laboratórios Grenoble, França, para a definição das obras a serem
executadas para a proteção da orla olindense. Determinou-se a construção de diques
transversais às praias e outros paralelos, com blocos de granito. As obras tiveram início em 1956. Os diques conseguiram
reduzir em muito o avanço do mar, mas acabaram com o acesso às praias dos Milagres,
Carmo, São Francisco, do Farol e Bairro Novo, pela colocação das pedras. Sem a
faixa de areia as praias tornaram-se quase que proibidas ao banho, pois as
pessoas não mais conseguiam chegar ao mar.
Em 2010 novas obras
de contenção, desta feita nas praias de Bairro Novo, Casa Caiada e Rio Doce,
foram iniciadas em Olinda. Também foram anunciadas
adequações para urbanização e paisagismo. Em 2019, estudos do pesquisador Luís
Augusto de Gois, do Departamento de Geociências da UFPE, demonstraram que as
obras de contenção da década de 1950 estão provocando erosão nas praias de
Olinda.
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