Após a invasão das tropas da
Companhia das Índias Ocidentais a Pernambuco, Matias de Albuquerque tenta
conter os invasores, primeiro em Olinda, no Rio Doce, e depois no Recife, mas
consegue apenas atrasar o avanço inimigo. Dominados Olinda e sem meios para
defender o porto, Recife, o comandante olindense manda queimar os armazéns de
açúcar e afundar um navio para bloquear a entrada do porto, mas por fim, os
neerlandeses, com efetivos e material bélico superiores, conquistam tudo.
Para
centralizar a resistência e coordenar a guerra de emboscadas às tropas da WIC, Matias de Albuquerque constrói uma
fortificação na propriedade de Antônio de Abreu, ao noroeste do Recife e
próximo ao Rio Capibaribe, que passaria a ser chamada de Forte Real do Bom
Jesus ou Arraial do Bom Jesus. Durante cinco anos esse bastião foi
arregimentando moradores e combatentes que atacavam os destacamentos
neerlandeses, principalmente os que se aventuravam fora dos fortes do Recife em
busca de alimentos. No entanto, após um cerco de três meses e três dias, em 08
de junho de 1635, sem mais nenhum mantimento ou munição, o Arraial do Bom Jesus
cai para as tropas do coronel Chrestofle Arciszewski. Na sequencia, os
invasores conquistam o Forte de Nazaré, no Cabo de Santo Agostinho, ficando
senhores dos principais pontos fortificados do Rio Grande ao centro sul de
Pernambuco.
Dez
anos depois, tem início a Insurreição Pernambucana para a expulsão dos holandeses
do Nordeste brasileiro. Em setembro de
1645 começa, no antigo Engenho São Tomé, depois Rotterdam, uma légua a oeste
do Recife, a construção do Arraial Novo do Bom Jesus, sob a orientação do mestre
de campo Dirck van Hoogstraten. Recebe oito canhões de bronze conquistados aos
holandeses no Forte de Bom Sucesso do Porto Calvo. A fortificação de terra
batida será concluída em cerca de três meses.
Em 07
de outubro de 1645 João Fernandes Vieira é aclamado governador de Pernambuco e
comandante do exército de libertação, pelos membros mais importantes da
capitania, no Arraial Novo. Essa tomada de decisão não foi submetida às
autoridades do Governo Geral de Salvador nem ao Rei de Portugal. Ao raiar do
dia 01 de janeiro de 1646 a artilharia do Novo Forte do Bom Jesus se fez ouvir
no Recife. Em fevereiro do ano seguinte o almirante Jean Cornelis Lichthardt
escreve relatório aos Estados Gerais dando conta da construção de um forte no
engenho de Willem Bierboom, a uma légua do Recife.
Um ano
depois, 20 de fevereiro de 1647, representantes de Olinda, Igarassu, Goiana,
Sirinhaém e Paraíba, reunidos no Arraial Novo, mandam carta ao Rei D. João IV
pedindo o envio de tropas para ajudar na guerra contra os holandeses e
comprometendo-se a custear as despesas com tudo necessário para a libertação do
Brasil dos invasores. Lembram que a luta dos portugueses contra os espanhóis
para a confirmação da separação da Coroa Portuguesa da Espanha estava num
estágio que permitia a liberação de parte do contingente para o Brasil.
Em 1648 tem lugar a primeira batalha dos Guararapes, inicio do fim da dominação holandesa no Brasil. No dia 16 de abril daquele ano, o mestre de campo general Francisco Barreto de Menezes, estacionado no Arraial Novo do Bom Jesus com suas tropas, recebe do governador-geral, Antônio Teles de Meneses, a confirmação de seu cargo de governador e comandante das tropas em Pernambuco.
Na
noite do dia seguinte o coronel alemão Sigmund von Schkoppe desloca 4.500
homens das tropas da WIC do Recife,
além de 300 índios Tapuias, marinheiros e os componentes do trem de guerra, até
o Forte Prins Willem em Afogados. No mês anterior havia chegado ao Recife um
comboio procedente da Holanda com 6.000 combatentes para romper o cerco imposto
ao Recife pelos insurretos luso-brasileiros. O objetivo de Von Schkoppe é
atacar Muribeca, cerca de três léguas ao sul do Recife e centro abastecedor de
mantimentos do Arraial Novo do Bom Jesus. Deveriam também bloquear o acesso por
terra ao Cabo de Santo Agostinho e seu porto.
Informado
das manobras dos holandeses, o mestre de campo general Barreto de Meneses imagina
que o ataque seria direcionado ao Arraial Novo do Bom Jesus, mas na tarde do
dia 18 o veterano sargento-mor Antônio Dias Cardoso chega ao Arraial informando
da direção da marcha dos holandeses. Barreto de Meneses convoca um conselho de
guerra para decidir a linha de ação. Passa o comando da operação a Fernandes
Vieira e Vidal de Negreiros muito mais experientes na região.
No dia
19 de abril de 1648 tem lugar a 1ª Batalha dos Guararapes nos montes de mesmo
nome, onde um efetivo da WIC três
vezes maior foi batido pelos luso-brasileiros. O coronel Schkoppe, gravemente
ferido numa das pernas no início da luta, retorna ao Recife. Morreram no
combate, além dos tenentes-coronéis neerlandeses Van Haus e Keerveer, cerca de
500 homens com mais 500 feridos. Pelos luso-brasileiros as baixas foram de 80
mortos e 400 feridos. Dentre os feridos, morre um mês depois no Arraial Novo, o
mestre de campo Antônio Felipe Camarão (Poti), em consequência de ferimentos
recebidos nos Guararapes. Pelos seus serviços na luta contra os holandeses
havia recebido os títulos de Dom, Comendador da Ordem de Cristo e Governador-Geral
dos Índios do Brasil. Foi enterrado inicialmente numa capela no próprio
Arraial, e depois trasladado para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, na
Várzea.
Menos
de um ano depois, 19 de fevereiro de 1649, ocorre a 2ª Batalha dos Guararapes
nos mesmos morros do primeiro confronto. O exército da WIC, agora sob as ordens do coronel Johan van den Brinck, já que
Schkoppe ainda convalescia do ferimento da última batalha, sai do Recife na
noite do dia 17 e na tarde do dia seguinte ocupam posições nas partes altas dos
Montes Guararapes. Por volta das 10h00 do dia 18 os luso-brasileiros no Arraial
Novo tomam conhecimento da marcha dos mercenários da WIC. Posteriormente sabendo da direção da expedição aos Guararapes,
o conselho de guerra resolve enfrentar os inimigos.
Os 2.600
homens do mestre de campo general Barreto de Menezes, saindo do Arraial Novo do
Bom Jesus em marcha batida chegam ao cair da noite e ocupam o sopé noroeste. Os neerlandeses
permanecem durante toda manhã do dia 19 em suas posições no alto dos montes, sofrendo
com o forte calor e a falta d’água. O conselho de guerra decide abandonar o plano
de atingir a Muribeca e que voltariam ao Recife. Às 15h00 os holandeses começam
a descer os montes e a artilharia neerlandesa ataca os insurretos, mas é contida.
Ao tentarem sair dos morros as formações da WIC
são atacadas e procuram resistir, mas são batidas e fogem em confusão, sendo
perseguidas pelas tropas luso-brasileiras.
Os
holandeses deixam para trás grande quantidade de armas e equipamentos,
inclusive sua artilharia. Entre os mortos do lado da WIC estão o coronel Van den Brinck e o vice-almirante Giesseling,
num total de 1.500 baixas entre mortos e feridos. Nas tropas luso-brasileiras
houve cerca de 100 mortos e 450 feridos.
Em janeiro de 1654, após apertado cerco ao Recife e Mauritsstad, os neerlandeses se rendem às forças luso-brasileiras. Com o final do conflito o Arraial Novo do Bom Jesus é desativado.
Em janeiro de 1654, após apertado cerco ao Recife e Mauritsstad, os neerlandeses se rendem às forças luso-brasileiras. Com o final do conflito o Arraial Novo do Bom Jesus é desativado.
Segundo o arqueólogo
Marcos Albuquerque, o Forte Novo do Bom Jesus é uma das poucas fortificações em terra
construídas no Brasil, cujos resquícios ainda se encontram aparentes. Está
localizado na Av. do Forte, bairro do Cordeiro, e pode ser observado um
obelisco de granito implantado pelo Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico
Pernambucano em 1872, em sua parte mais elevada.
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