segunda-feira, 4 de novembro de 2024

 


Bandeira da Revolução de 1817, criada pelo padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro e desenhada pelo pintor Antônio Alves. As estrelas representam Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

O RECIFE - Lúcio Costa

O Recife não é terra

É mar, é rio, é ponte

É mesmo muito mangue

É frevo e maracatu

 

O Recife é o arrecife

Tentando conter o mar

Fazendo jangada a ciranda jogar

Levando peixe e pescador pra lá e pra cá

 

O Recife é graviola, manga e carambola

É cana, cachaça e caranguejo

Engenho de açúcar e senzala

É sapoti, pitomba e mangaba

 

O Recife não é Veneza

É cheia do Capibaribe, maré e mangue

Lama, massapê e canavial

No ritmo do vento e do frevo

 

Gilberto Freyre e Reginaldo Rossi

Josué de Castro e Chico Science

Capiba e Claudionor Germano

Naná Vasconcelos e Nassau

 

Português e holandês

Inglês e italiano

Alemão e turco

Negro, índio e mameluco

 

Católico e judeu

Muçulmano e umbandista

Calvinista e Batista

Iemanjá e Conceição

 

Engenho, moenda e carro de boi

Escravo e feitor

Senhora e senhor

Capela e caldeira, reza e fogueira

 

Açúcar sem liberdade

Casa grande e pobreza

Ouro branco e grilhão negro

Escravidão e tristeza

 

Bolo de rolo e beiju

Vinho do Porto e mandioca

Bacalhau e tapioca

Queijo do reino e cocada

 

Água doce e salobra

Areia e lama cheirando a merda

Mar e maresia

Que depende da Lua, da noite e do dia

 

E claro, tubarão, que veio ver com certeza

Como a cidade se equilibra

Entre o céu e o mar

Entre o arrecife e o manguezal

 

Oxe, oxente

Corso, serpentina e confete

Passo e compasso que equilibra

Na frevança que rodopia e desequilibra

 

Capibaribe e Beberibe

Capivara e arraia

A terra junta pelas pontes

A cidade que surgiu do mangue 

sexta-feira, 24 de maio de 2024

Prosopopea

 


Brasão de armas de Jorge d'Albuquerque Coelho impresso na Prosopopea

terça-feira, 21 de maio de 2024

Bento Teixeira

O cristão novo português Bento Teixeira chegou ao Brasil em 1567 no Espírito Santo. Era natural da cidade do Porto, tendo nascido em data incerta por volta de 1561. Posteriormente seguiu com seus pais para o Rio de Janeiro e depois para a Bahia onde ficou órfão.

Ele estudou nas escolas dos padres jesuítas desde sua infância no Espirito Santo até chegar em Salvador, sendo elogiado por sua dedicação aos estudos dos clássicos latinos. Tornou-se mestre escola, ensinando a ler e escrever. Também fazia traduções do latim.

Tendo casado em Ilhéus com Filipa Raposa, algum tempo depois mudou-se para Olinda e abriu uma escola para moços na Rua Nova, onde leciona leitura, escrita e as práticas católicas. Como a subvenção que recebia da Câmara de Olinda foi retirada, transferiu-se para Igarassu. Pelas traições praticadas por sua esposa, volta para Olinda. Como Filipa continuou com a infidelidade conjugal, Bento Teixeira vai para o Cabo de Santo Agostinho, onde permanece com a instrução de jovens.

Pelos frequentes adultérios de sua esposa, Bento termina por matá-la e procura refúgio no Mosteiro de São Bento, Olinda. Por desavenças com Frei Damião da Fonseca, abade daquela casa e assessor do Visitador do Santo Ofício, desconfiava ele ter sido denunciado pelo abade à Inquisição.

Apresentou-se espontaneamente em 21 de janeiro de 1594 ao Visitador do Santo Ofício em Olinda, Heitor Furtado de Mendonça, para confessar suas ações judaizantes. Diante do que ouviu dele e de outras pessoas, foi preso em 19 de agosto de 1595 por ordem do Visitador. Um mês depois, o preso apresentou um requerimento de defesa onde pede a ouvida de várias testemunhas que podiam atestar sua fé católica.

Em 22 de outubro de 1595 Bento Teixeira e outros presos pelo Santo Ofício partiram do Recife para Lisboa, tendo aportado em 01 de janeiro de 1596, sendo transferido sete dias depois para o Paço dos Estaus, sede da Inquisição em Lisboa. Seu processo na Inquisição de n° 5.206 teve início em 28 de fevereiro de 1596 e ouviu várias testemunhas em Lisboa e em Olinda que falaram tanto dos ensinamentos proferidos por Bento Teixeira como de suas discursões ácidas com muitas pessoas de seu convívio.

Receoso das muitas denunciações feitas contra ele e de não obter o perdão, resolve contar a verdade. Disse que sua mãe praticava o judaísmo e ele a acompanhava, também participando de reuniões com judeus, do que pedia perdão. Além dos depoimentos, escreveu algumas confissões aos inquisidores.

Em 03 de dezembro de 1598 foi dado parecer de que o réu deveria ser recebido à reconciliação da Santa Madre Igreja no cárcere e com uso de hábito penitencial perpétuo, por ter confessado suas culpas, pedido perdão e mostrar-se arrependido. A sentença foi lida a Bento Teixeira no Auto de Fé público dia 31 de janeiro de 1599. Ele foi transferido para o cárcere das Escolas Gerais onde “deverá ser instruído nas coisas da fé necessárias à salvação da sua alma”. Em outubro do mesmo ano pediu sua soltura, o que lhe foi concedido no dia 30 daquele mesmo mês. Deveria permanecer morando em Lisboa, donde não poderia sair sem prévia autorização da Mesa da Inquisição, além de manter o uso do hábito penitencial, o sambenito.

Bento Teixeira foi o autor da primeira obra literária escrita no Brasil, em 1593, Prosopopea, dedicada ao governador da Capitania de Pernambuco, então denominada Nova Lusitânia, Jorge d’Albuquerque Coelho.  

Tendo falecido em julho de 1600, não viu seu trabalho ser impresso e publicado em 1601 pela oficina de Antônio Alvarez em Lisboa. Apesar de suas questões com o Santo Ofício, os inquisidores não encontraram coisa que obstasse a publicação do seu poema épico.

Apenas em 1872, Francisco Adolfo de Varnhagen, diplomata e historiador brasileiro encontrou um exemplar da Prosopopea na Biblioteca Pública de Lisboa e no mesmo ano outro exemplar foi localizado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro por Benjamin Franklin Ramiz Galvão, bibliotecário daquela instituição. Em 1873 a Bibliotheca Nacional e Publica do Rio de Janeiro publicou, com autorização do Governo Imperial, uma reimpressão idêntica à edição de 1601.

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Principais Eventos do Brasil Holandês

08/05/1624

Invasão de Salvador pelos holandeses

01/05/1625

Holandeses em Salvador rendem-se às tropas luso-espanholas vindas da Europa

14/02/1630

Esquadra neerlandesa chega a Pau Amarelo para invasão de Pernambuco

24/11/1631

Incêndio de Olinda pelas tropas da WIC

20/04/1632

Deserção de Domingos Fernandes Calabar

20/06/1633

Holandeses ocupam a Vila da Conceição em Itamaracá

12/12/1633

Conquista do Forte dos Reis Magos, Rio Grande, pelos neerlandeses

30/12/1634

Holandeses conquistam Filipéia de Nossa Senhora das Neves, Paraíba

08/06/1635

Tomada do Arraial do Bom Jesus pelos holandeses

02/07/1635

Neerlandeses ocupam o Forte de Nazaré no Cabo de Santo Agostinho

17/01/1636

Conquista das Alagoas pelos holandeses na batalha de Mata Redonda

23/01/1637

Chegada do Conde João Maurício de Nassau-Siegen ao Recife

08/04/1638

Expedição de Nassau parte do Recife para atacar Salvador

25/05/1638

A expedição de Nassau retorna de Salvador sem sucesso

27/08/1640

Assembleia no Recife com Nassau e representantes portugueses de toda conquista

25/08/1641

Neerlandeses conquistam São Paulo de Luanda em Angola

11/05/1644

Comitiva do Conde de Nassau parte para Cabedelo, para dali voltar à Europa

03/08/1645

Batalha do Monte das Tabocas

17/08/1645

Batalha de Casa Forte

19/04/1648

1ª Batalha dos Guararapes

18/02/1649

2ª Batalha dos Guararapes

20/12/1653

Chega ao litoral pernambucano frota da Cia Comércio do Brasil, para cercar o Recife pelo mar.

26/01/1654

Assinada a rendição dos holandeses na Campina do Taborda

 

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

As Memórias de Arciszewski

Minha sugestão é que o Rio Grande deve ser ocupado por não menos de 200 homens. No Rio Mamanguape deve ser construído um forte para uma guarnição de 100 homens pois lá é o local ideal para que o inimigo desembarque seus marinheiros, bem no meio de nossas províncias, sendo bem próximo à Traição o que seria imensamente prejudicial à Paraíba, que fica bem próxima, caso o inimigo nos ataque de surpresa nessa região.

Na Paraíba e nos três fortes que lá estão, eu julgo serem necessários 600 homens. Na Ilha de Itamaracá e em Goiana, ao menos 300 homens. No Recife e nos fortes ao seu redor, destruindo o Afogados e outras fortificações inúteis, 700 homens. No Cabo de Santo Agostinho, eu gostaria que tudo fosse destruído, não mantendo mais do que um forte dominando o porto. Mas como as pessoas não tem vontade nem meios de construir, deve ser mantido o forte Gijsselingh que lá já existe, tal como está, com uma guarnição de 150 homens.

Com o tempo, não se deve fazer muito com o forte de Porto Calvo, recém conquistado, pois naquele mesmo lugar, tal como atualmente se localiza, não pode ser socorrido, a não ser quando se é senhor do campo. Caso o inimigo chegue com grande força na região, como nós fizemos, ficará perdido e isolado, juntamente com toda a artilharia. Será muito melhor que seja demolido e que Sua Excelência erga um forte próximo ao porto, na praia com uma guarnição de 150 homens: essa poderá, ao menos, ser socorrida pelo mar.

No porto Francês ou na sua vizinhança, para manter livre as Alagoas, Sua Excelência deve construir um forte para guarnição de 100 homens. No Rio São Francisco existem dois lugares que oferecem possibilidade de entrada e neles devem ser construídos dois fortes, cada um com 150 homens de guarnição. E isso é o mínimo que Sua Excelência deve fazer para defender o Rio São Francisco, e também deve ter, ao menos, um exército móvel com cerca de 400 homens. Tudo isso junto, forma um total de 3 mil homens. O resto das tropas Sua Excelência pode dirigir sem preocupação para fora do Rio São Francisco, pois acredita-se que fora dele não esteja mais ocupado, e assim pilhar a região e buscar conseguir a manutenção e o butim para a soldadesca. Mas sempre devem ser estar preparados para retornar a Pernambuco, caso cheguem informações de que o inimigo se aproxima pelo mar. Nesse interim, deve se pensar estratégias e tomar medidas para se atacar a Bahia.

 

Trecho final das Memórias de Krzysztof Arciszewski, oficial polonês que esteve a serviço da WIC no Brasil holandês desde o início da invasão. Em 1637 volta à Europa e deixa para o Conde de Nassau um documento onde relata a situação da conquista e providencias a serem tomadas para a correta manutenção e expansão do território ocupado no Nordeste do Brasil.

Fonte: As Memórias de Krzysztof Arciszewski. Um polonês a serviço da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil. Miranda, B.R.F. & Xavier, L.F.W. – CEPE, 2022