domingo, 29 de janeiro de 2023

Torre Malakoff

Em 1853 teve início a Guerra da Crimeia, península ao norte do Mar Negro. Em outubro daquele ano as tropas do czar russo Nicolau I invadiram territórios controlados pelos turcos otomanos. Para combater os invasores foi formada uma aliança entre o Império Otomano, França, Inglaterra e o Reino da Sardenha (atual parte da Itália). O conflito durou até março de 1856.

A principal batalha da guerra foi travada em Sebastopol, sede da marinha russa no Mar Negro. As tropas combinadas francesas, britânicas e piemontesas cercaram a cidade e após a queda do reduto de Malakoff para as tropas francesas, em 09 de setembro de 1856, a cidade de Sebastopol foi tomada.

A Torre Malakoff, situada na Praça do Arsenal, junto ao Porto do Recife, fazia parte do Arsenal da Marinha, segundo decreto provincial de 01 de janeiro de 1834, tendo sido seu projeto arquitetônico criado em 1837. Sua construção foi iniciada em 1853 com o nome de Portão Monumental e Observatório Astronômico. Na época, o Diário de Pernambuco fazia uma extensa divulgação dos combates da Guerra da Crimeia e notadamente do cerco da fortificação de Malakoff em Sebastopol. Os pernambucanos então batizaram com o nome de Torre Malakoff o prédio de 30 metros de altura, o mais alto da cidade à época, que utilizou material retirado do antigo Forte do Bom Jesus, símbolo da resistência aos invasores holandeses no século XVII.

Com a Proclamação da República em 1889, a Marinha do Brasil desativou os Arsenais do Pará, Pernambuco e Bahia, concentrando-os no Rio de Janeiro. As reformas e ampliações do Porto do Recife foram modificando os prédios do Arsenal, restando apenas a Torre Malakoff.

A torre foi ameaçada de demolição algumas vezes, sendo defendida em campanhas lideradas por Gilberto Freyre, Anibal Fernandes e Varella Quadros, além do IAGHP – Instituto Arqueológico, Geográfico e Histórico de Pernambuco.

Originalmente a torre tinha a cúpula giratória metálica que abrigava instrumentos astronômicos e abaixo ficava o relógio de fabricação inglesa com mostrador transparente. Esses equipamentos foram paulatinamente sendo desativados.

Desde o ano de 2000 a Torre Malakoff é um centro cultural com oito salas de exposição e um anfiteatro na área externa.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

A Bravura do Povo de Pernambuco

A Capitania de Pernambuco foi surpreendida pela enorme esquadra neerlandesa que surgiu no litoral de Olinda no dia 12 de fevereiro de 1630. Matias de Albuquerque, neto de Duarte Coelho (primeiro donatário de Pernambuco), já havia sido alertado de que a Companhia das Índias Ocidentais – WIC, preparava uma força de invasão com destino ao Brasil, mas o tamanho da expedição, 70 navios e mais de 7.000 homens, não era  imaginado.

A pequena força defensiva luso-brasileira consegue conter os invasores por apenas um mês, e Olinda e o Recife são tomadas pelos mercenários da WIC. Os veteranos entre os militares da companhia neerlandesa tinham uma experiência de combate de décadas, pois lutavam na Europa desde a guerra de independência contra a Espanha, a Guerra dos Oitenta Anos, que teve início em meados do século XVI.

Perdidos os principais pontos de resistência e da guerrilha dos locais, tendo como ponto principal a queda do Arraial do Bom Jesus em 1635, só resta ao comandante Matias de Albuquerque levar a população que não queria ficar sob o jugo neerlandês e o restante das tropas numa jornada de 300 léguas até o Rio São Francisco, por matas e caminhos cheios de perigos naturais e inimigos.

Sem poder enfrentar os invasores de igual para igual, visto a diferença entre o poder militar neerlandês e a milícia local, composta em sua maioria de civis transformados em combatentes, os luso-brasileiros empregavam a tática de guerrilha, esperando os homens da WIC saírem de suas fortificações para embosca-los em locais ermos ou quando alguns se aventuravam em conseguir alimentos, água ou lenha. Com pouquíssimas armas de fogo, empregavam algumas poucas armas brancas e armas improvisadas, como lanças feitas de paus com as pontas endurecidos ao fogo e porretes.

O povo de Pernambuco sofreu a perseguição dos invasores desde a chegada destes a Olinda e ao Recife, seja por motivos militares, econômicos ou religiosos. Alguns poucos se aliaram aos neerlandeses em busca de ganhos materiais, mas a grandíssima maioria combateu-os de diveras formas, tanto com armas como com ações de ajuda moral e material.

Não só os homens tomaram a si a incumbência de defender a terra. Veja-se o exemplo das mulheres de Tejucupapo, local próximo ao litoral norte de Pernambuco, onde um grupo de moradoras expulsou uma tropa de holandeses que queriam aproveitar-se da ausência dos homens para levar os alimentos da povoação e foram escorraçados.

Lutando mais coordenadamente desde 1645 com a Insurreição, depois de nove anos e das batalhas do Monte das Tabocas, Casa Forte e Guararapes, os invasores neerlandeses foram vencidos e expulsos no início de 1654.  

Pela desconsideração da Coroa Portuguesa em atender às demandas dos homens da terra, principalmente no preenchimento dos principais cargos públicos da Província de Pernambuco, ocorreram diversas revoltas nos séculos XVIII e XIX que tiveram como principal justificativa a restauração do território pernambucano pelos próprios naturais da terra contra os holandeses, com pouquíssima intervenção de Portugal. Observe-se a Guerra dos Mascates (1710), Revolução de 1817, Revolta da Junta de Goiana (1821), Confederação do Equador (1824) e Revolução Praieira (1848).

Os pernambucanos viam a Coroa portuguesa como duplamente devedora aos locais: não havia cuidado da proteção da colonia proporcionando a invasão neerlandesa e fora pouco efetiva no apoio à Insurreição que retomou as capitanias do Norte à República Unida dos Países Baixos em 1654.