sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Recife, século XVII

Parece que o Recife -que os documentos antigos chamam simplesmente de "Povo"- era um triste burgo nos primeiros anos do século XVII. Burgo triste e abandonado, que os nobres de Olinda deviam atravessar pisando em ponta de pé, receando os alagados e os mangues; burgo de marinheiros e de gente ligada ao serviço do porto; burgo triste, sem vida própria, para onde até a água tinha de vir de Olinda.

O Recife foi, porém, desde os primeiros tempos uma tentação para os piratas mais afoitos, de olhos compridos nas riquezas da terra. Porque o Recife era, apesar de tudo, a porta de entrada da capitania.

José Antônio Gonsalves de Mello
Tempo dos Flamengos, 1947

domingo, 15 de setembro de 2013

Vrijburg

Chegando ao Recife em 23 de janeiro de 1637, Mauricio de Nassau ocupou inicialmente uma casa, na época, às margens do Rio Capibaribe, local atualmente numa esquina entre as ruas do Imperador e 1º de Março.

Apaixonado pela arquitetura e urbanismo, Nassau tratou de construir para sua residência oficial um prédio à altura de sua condição de nobre europeu e principal autoridade do Brasil holandês. Em 1639 adquiriu uma extensa área ao norte da Ilha de Antônio Vaz, hoje correspondente à Praça da República, Teatro Santa Isabel e Palácio do Campo das Princesas. Segundo Barleus, “Era uma planície safara, inculta, despida de arvoredo e arbustos”. Próximo, ocupando o local do atual Palácio da Justiça, já havia o Forte Ernesto, que foi instalado no Convento de Santo Antônio.

Em 1640 são iniciadas as obras do parque que incluíam um horto e zoológico onde eram mantidos diversos animais domésticos e selvagens do Brasil e África, e cultivadas plantas e arvores das mais variadas espécies, destacando-se um imenso coqueiral com exemplares transplantados por Nassau, procedentes de locais próximos e trazidos em barcaças.

O palácio seria denominado Vrijburg ou Friburgo, também conhecido como Palácio das Torres pelas duas partes quadrangulares elevadas nas laterais do prédio. Estas torres serviam como posto de observação e farol para os navios em demanda ao porto do Recife. Nos arredores do edifício principal havia cacimbas com água doce e três tanques de criação de peixes.

Seus salões estavam decorados com pinturas de motivos do país e objetos trazidos de várias partes do mundo, formando uma coleção de curiosidades como era moda na Europa de então. O Conde de Nassau, além de tratar dos assuntos oficiais da conquista, recebia as pessoas gradas nos jardins do palácio para festas e encontros culturais.

Voltando à Europa em 1644, Nassau não pode ver a constante modificação do Palácio Friburgo e do entorno para fazer frente às lutas da Restauração Pernambucana que culminou com a rendição dos holandeses em 1654 quando restava apenas o prédio principal.

Friburgo serviu de residência oficial a vários governadores da província de Pernambuco passando por diversas reformas até ser demolido em 1786. No local foi construído o prédio do Erário Régio, que por sua vez também foi demolido, surgindo em 1840 a nova sede do governo. O edifício passou por reformas em 1852, 1873 e 1922 quando assumiu o aspecto atual. O Palácio do Campo das Princesas, como é denominado hoje, está sofrendo intervenção para recuperação, devendo ser reinaugurado em 2014.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Fortes do Recife

Forte de Bruyn – é um belo forte quadrangular situado entre o rio Beberibe e o mar, no caminho que vai para Olinda, com dois baluartes completos e dois meio-baluartes. Os meio-baluartes estão localizados do lado da maré e as extremidades deles estão ligadas umas ás outras por uma linha de paliçadas. No meio dessa linha fica uma cortina de madeira, à prova de tiro de mosquetes, para flanquea-la de ambos os lados. Em razão de sua localização não pode ter fosso, mas é cercado por duas linhas de paliçadas e com estacas por cima. Os quartéis, o corpo-da-guarda e as portas foram feitas conforme se requeria. A casa da pólvora é razoável e as baterias estão em perfeito estado, estando nelas montadas as seguintes peças: 02 24lb, 01 18lb, 02 16lb, 01 10lb, 02 8lb, 02 6lb, 02 cortadas 6lb e 02 3lb (14 peças de bronze).

Forte Waerdenburgh ou O Triângulo – foi primitivamente um forte quadrangular, na confluência dos rios Capibaribe e Beberibe, numa ilha, com três baluartes em direção das Salinas, de onde podia ser aproximado; o quarto angulo era em direção de Antônio Vaz e não tinha baluarte, porque desse lado esperava-se pouco perigo. Nesse reduto há uma pequena casa de pólvora e em cada bateria estão montadas as seguintes peças: 02 5lb e 02 3lb (bronze); 03 5lb e 02 4lb (ferro).

Castelo da Terra ou São Jorge – é um castelo quadrangular no caminho ou dique entre o forte de Bruyn e o Recife, todo construído de pedra de cantaria. Na direção do forte do Brum e da cidade de Olinda tem um bastião completo e um meio-baluarte, o qual baluarte completo e dois meios-baluartes flanqueiam três lados; o lado dório é curvado a modo de tenalha, de modo que também este parcialmente pode  ser flanqueado. Este castelo está servindo há algum tempo como hospital e não tem atualmente guarnição, mas dispõe das seguintes peças de ferro: 09 6lb, 01 10lb, 01 4lb.

Forte Ernesto – é um belo forte quadrangular que circunscreve o convento com dois baluartes completos e dois meios-baluartes, situados do lado do rio, cujos pontos extremos estão ligados entre si por um muro que corre ao longo do rio, no qual fica a saída. No meio desse muro fica uma estacada de madeira, que varre todo o muro que, sem isso, não teria flancos. Este forte tem uma muralha bem pesada e também um fosso largo, mas não profundo. O forte tem cinco baterias, além da estacada de madeira, as quais estão montadas assim: 01 24lb, 01 20lb, 01 16lb e 02 12lb (bronze); 02 13lb e 01 2lb (ferro).

Forte Frederico Henrique ou As Cinco Pontas – é um grande forte pentagonal regular, com baluartes completos e tem uma pesada muralha e parapeito em redor com uma paliçada de faxina. Dentro estão dois baluartes isolados com paliçadas contra o parapeito. De fora, em direção ao Amélia, ficam dois hornaveques, arruinados na maior parte, e com as frentes parcialmente desmanteladas. Tem cinco baterias nos pontos e dez nos flancos, com as seguintes peças: 02 24lb, 01 18lb, 05 12lb, 03 8lb, 04 6lb e 01 6lb (bronze); 02 16lb, 02 8lb e 3 6lb (ferro).

Forte Príncipe Guilherme – é um grande forte quadrangular regular, situado no rio dos Afogados, com quatro baluartes completos. Tem fortes muralhas e parapeitos, com duas banquetas fora, na berma, com uma paliçada, e fora desta um fosso bem largo e razoavelmente profundo. Dentro há bons quartéis, corpo da guarda e casa da pólvora, com uma nova porta abobadada, sobre a qual está o alojamento do comandante. As baterias estão montadas segundo as necessidades, assim: 02 24lb, 02 18lb, 01 12lb, 02 8lb, 02 5lb e 02 3lb (bronze); 01 6lb e 01 5lb (ferro).


Relatório dos Conselheiros Hamel, Bullestrate e Bas ao Conselho dos XIX
1646