domingo, 12 de novembro de 2017

Josué de Castro

Nasci (no Recife) numa rua que tinha o nome ilustre de Joaquim Nabuco, o grande abolicionista dos escravos, nos tempos do Império. A casa em que nasci tinha ao lado um grande viveiro de peixes, de caranguejos e de siris. Se não nasci mesmo dentro do viveiro, como os caranguejos, já com dois anos estava dentro dele.


O grande Recifense Josué Apolônio de Castro nasceu no dia 05 de setembro de 1908 e atuou como médico, geógrafo, professor e principalmente, no combate à fome. Escreveu livros traduzidos em todo mundo: Geografia da Fome, Geopolítica da FomeSete Palmos de Terra e Um Caixão e Homens e Caranguejos.

Foi presidente do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e Embaixador brasileiro na ONU.

Foi deputado federal por Pernambuco em dois mandatos. Durante o Regime Militar teve cassados seus direitos políticos enquanto era embaixador em Genebra, indo asilar-se em Paris. 

Recebeu o Prêmio Franklin D. Roosevelt da Academia de Ciências Políticas dos Estados Unidos, o Prêmio Internacional da Paz do Conselho Mundial da Paz e a comenda de Oficial da Legião de Honra da França. Foi indicado ao Premio Nobel da Paz nos anos de 1953, 1963, 1964 e 1965.

Faleceu ainda em Paris em 24 de setembro de 1973, estando enterrado no cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro.


Bem ao lado da casa começava a zona compacta dos mocambos, das choças de palha e de barro, amontoadas umas por cima das outras num enovelado de ruelas, numa anarquia desesperadora. As casas entrando por dentro da maré, a maré invadindo as casas. Os braços do rio passando pelo meio da rua e a lama envolvendo tudo.

Criei-me nos mangues lamacentos do Capibaribe cujas águas, fluindo diante dos meus olhos ávidos de criança, pareciam estar sempre a me contar uma longa história.


Eu ficava horas e horas imóvel sentado no cais, ouvindo a história do rio, fitando as suas águas correrem como se fosse uma fita de cinema. Foi o rio o meu primeiro professor de história do Nordeste, da história desta terra quase sem história. A verdade é que a história dos homens do Nordeste me entrou muito mais pelos olhos do que pelos ouvidos. Entrou-me por dentro dos meus olhos ávidos de criança sob a forma destas imagens que estavam longe de serem sempre claras e risonhas. Josué de Castro, 1967.

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