domingo, 10 de fevereiro de 2013

Pernambuco: tradição de revolução e liberdade

Após expulsar os holandeses em 1654, o sentimento nativista pernambucano mantém a tradição libertária e revolucionária que se mostra em várias ocasiões contra o poder central monarquista. O povo pernambucano não aceita a imposição de leis e a cobrança de impostos exorbitantes aos seus filhos que, no dizer do poeta César Leal, "edificaram a fogo, a faca e patas de cavalos o orgulho nacional em Guararapes."

Em 1666, foi nomeado pelo rei D. Afonso VI, como governador da província de Pernambuco o general português Jerônimo de Mendonça Furtado. Os pernambucanos esperavam que o cargo fosse ocupado por uma liderança local em face da reconquista desta parte do Brasil pelos homens da terra. O governador Furtado foi apelidado de Xumbergas por usar um bigode semelhante ao do general alemão Von Schomberg, que lutara na guerra de restauração do trono português. Ele se indispôs com os líderes locais e terminou por ser preso durante uma procissão organizada por eles no dia 31 de agosto daquele ano. Da fortaleza do Brum foi enviado a Bahia e posteriormente a Portugal.

O confronto com os portugueses teve novo episódio em 1710 com a elevação do Recife a condição de Vila. Os homens tradicionais de Olinda, sede da província, não aceitaram a situação da nova vila onde viviam os mascates portugueses e os atacaram, destruindo o pelourinho e provocando a fuga do governador Sebastião de Castro Caldas para a Bahia. Esses eventos ficariam conhecidos como a Guerra dos Mascates.

O mais importante movimento separatista e republicano de Pernambuco ocorreu em 1817 e chegou a se espalhar pelas províncias vizinhas. Os maçons do Recife divulgavam os ideais de liberdade e igualdade para todos, inclusive na libertação dos escravos. Os religiosos também tiveram papel relevante na disseminação dos regimes implantados nos Estados Unidos (1776) e França (1789).

Informado da revolta iminente, em 06 de março de 1817 o governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro convoca os oficiais comandantes do Recife para prender os civis e militares apontados como conspiradores. O capitão José de Barros Lima, o "Leão Coroado", ataca o brigadeiro português Manuel Barbosa de Castro, que acusava os oficiais pernambucanos, dando início a revolta. O governador Montenegro, seus familiares e outros portugueses foram presos e enviados ao Rio de Janeiro. Foi nomeado um governo provisório e encaminhados emissários às províncias da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia, além de Estados Unidos e Inglaterra. Uma nova bandeira foi instituida que é até hoje a bandeira de Pernambuco.

O mais importante é que, pela primeira vez no Brasil, foi proclamada a liberdade de pensamento, de religião e da imprensa além da liberdade progressiva dos escravos. Em maio, o governo imperial envia tropas e navios de guerra para sufocar a rebelião e acaba com o sonho liberal pernambucano.

Sete anos depois (1824) eclode nova revolta em Pernambuco que ficou conhecida como Confederação do Equador. Em 1823, D. Pedro I havia dissolvido a Assembléia Constituinte e centralizado fortemente o poder. O presidente da província Francisco Paes Barreto é pressionado pelos liberais republicanos e renuncia ao cargo. Pedro I envia duas belonaves ao Recife para reempossar o antigo presidente mas, sem sucesso. Resolve então nomear outro presidente, Mayrink Ferrão, mineiro ligado aos liberais que também é rejeitado pelos revoltosos no Recife. Em 02 de julho é proclamada a independência da Província de Pernambuco, sendo enviados emissários às províncias vizinhas para formar a Confederação do Equador. Em agosto, o imperador manda uma esquadra com tropas para dominar o Recife. O comandante, o inglês Thomas Cochrane, tenta convencer os separatistas a se renderem não obtendo resposta positiva. As tropas imperiais que haviam desembarcado em Maceió e receberam a adesão dos fiéis a D. Pedro I chegam ao Recife e conseguem reconquistar a cidade.

As lideranças do movimento foram presas, destacando-se frei Caneca, que foi condenado a morte e executado em 13 de janeiro de 1825 nos muros do Forte de Cinco Pontas.

Em represália aos movimentos libertários, Pernambuco teve seu território apartado das Comarcas de Alagoas em 1817 e da Comarca do São Francisco em 1824. Perdemos mais de 150.000 km² de terras que foram provisoriamente tomadas como castigo imposto pelos poderes imperiais.

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