sexta-feira, 3 de maio de 2013

O Governador dos Negros

Até o ano de 1633 quase não existe informação confirmada sobre o negro Henrique Dias.

Não se sabe o ano de seu nascimento. O certo é que era pernambucano.

Francisco de Brito Freyre, almirante português, afirma que ele nasceu escravo, enquanto Duarte Coelho Pereira, donatário de Pernambuco, relata sua condição de homem livre.

Henrique Dias apresentou-se em 14 de maio de 1633 ao general Matias de Albuquerque no Arraial do Bom Jesus, juntamente com sua tropa de negros. A situação dos luso-brasileiros só fazia piorar após a deserção de Calabar, que levou os holandeses a diversas conquistas. Dias permaneceu no Arraial mesmo depois da rendição que ocorreu por não haver mais mantimentos nem munição no forte.

Se ferimentos em combate podem medir a coragem de um soldado, Henrique Dias foi o mais corajoso da chamada Guerra Brasílica. Quase uma dezena de relatos atestam os danos recebidos por ele, inclusive aquele no combate de 18 de fevereiro de 1637 em Mata Redonda, Alagoas, onde um pelouro destroçou sua mão esquerda que teve de ser amputada acima do pulso.

No ataque que Maurício de Nassau procedeu a Salvador em 1638, Dias integrou a tropa de veteranos de Pernambuco que ajudou a defender a então capital do Brasil e fez retroceder os homens da Cia. das Índias Ocidentais.

Em 1639 chega ao Brasil o Conde da Torre, Governador e Capitão General de Terra de Mar, com a missão de recuperar os territórios tomados pelos holandeses. São enviados ao Brasil holandês os chamados campanhistas, guerrilheiros que deveriam atacar as posições neerlandesas e queimar seus canaviais. Entre eles estava Henrique Dias com seus negros.

No final de 1639 a tropa de Henrique Dias integra uma poderosa força que embarca para atacar os invasores holandeses no Recife e em outros pontos da costa nordestina. A missão não tem sucesso e após diversos confrontos com navios neerlandeses a frota luso-hispana é fragmentada e em parte destruída. Os homens de Dias desembarcam em Pipa, Rio Grande do Norte retornando pelo interior, onde se engajam em diversos combates com os holandeses até alcançarem a Bahia.

Em 1645 tem início as batalhas pela Restauração Pernambucana: Monte das Tabocas, Casa Forte, Cabo, etc. O Terço de negros de Henrique Dias está sempre na vanguarda dos combates e seu comandante vai colecionando vitórias e mais ferimentos.

Os luso-brasileiros cercam os holandeses praticamente no Recife e Dias se instala em habitações à margem do Capibaribe, atual bairro dos Coelhos, tão próximo ao inimigo que as escaramuças são diárias.

No inicio de 1648 ele e seu Terço seguem para o Rio Grande do Norte a fim de expulsar os neerlandeses da capitania. Na volta a Pernambuco atua bravamente na 1ª Batalha dos Guararapes (19 de abril). Quase um ano depois vem a 2ª Batalha dos Guararapes (18 de fevereiro) e Henrique Dias é mais uma vez ferido, com um tiro no flanco.

A rendição dos holandeses ocorre em 27 de janeiro de 1654 no Recife. Em março daquele ano H. Dias acompanha André Vidal de Negreiros a Portugal, onde este comunica ao rei D. João IV a vitória das armas luso-brasileiras sobre os neerlandeses. Henrique Dias escreve ao rei solicitando as benesses prometidas por seus comandantes durante a guerra de libertação.

Pela coragem extrema e derramamento de seu próprio sangue em situações diversas, a 27 de abril de 1654 o rei de Portugal concede por decreto ao negro Henrique Dias a comenda dos Moinhos do Soure da Ordem de Cristo com todas as honras devidas. Ao voltar a Pernambuco o general Barreto de Menezes, comandante do exército luso-brasileiro, expede alvará concedendo a Dias algumas casas no Recife, as mesmas que ele e seus homens haviam ocupado no cerco aos invasores junto ao Capibaribe.

Em 1656 o fidalgo negro volta a Portugal. Sua missão agora é garantir aos seus bravos comandados a liberdade que seus senhores lhes haviam prometido para lutarem pela liberdade do Brasil. Pedia ainda que seu Terço de homens negros fosse equiparado aos demais Terços de combatentes das forças portuguesas no Brasil. O Conselho Ultramarino atendeu ao pedido de Henrique Dias, seu Terço foi mantido e ele recebeu a patente de Mestre-de-Campo.

O grande patriota Henrique Dias morreu a 07 de junho de 1662 no Recife, sendo enterrado no Convento de Santo Antônio. Era casado e teve quatro filhas.

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