segunda-feira, 13 de maio de 2013

Recife, Cidade Sitiada

"Entretanto, enquanto as cousas se desenrolavam com fortuna vária e os socorros da Holanda tardavam, a penúria se acentuava diariamente no Recife.

Os gatos e cachorros, dos quais tínhamos então abundância, eram considerados finos petiscos. Viam-se negros desenterrando ossos de cavalo, já meio podres, para devorá-los com incrível avidez. Nem era menos insuportável a falta de água potável, devido ao rigor do verão e ao uso constante de carnes salgadas; todos os poços que se abriam minavam água salobra.

Finalmente a situação se agravou de tal sorte que mesmo a ração de uma libra [453 g] de pão por semana foi suspensa ao povo para ser concedida aos soldados que, induzidos pelos portugueses e atraídos por uma ração dobrada, começaram a desertar rapidamente.

Quando já tinhamos atingido ao auge da penúria e devorado todos os cavalos, gatos, cachorros e ratos, e um alqueire [15 Kg] de farinha chegou a ser negociado à razão de 80 e 100 florins, finalmente, a 22 de junho avistamos dois navios desfraldando o pavilhão do Príncipe, que rumavam para o Recife a todo pano. Esses dois navios, denominados Valk e Elizabeth foram fretados pela Câmara de Amsterdã e haviam zarpado de Texel a 26 de abril.

Os capitães de ambos os navios receberam medalhas de ouro com a seguinte inscrição: O Falcão e o Elizabeth salvaram o Recife."


Descrição de Joan Nieuhof (Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil) do cerco imposto pelos luso-brasileiros aos holandeses no Recife a partir de 1645, quando a única via de acesso à cidade era por mar, ainda dominado pelos neerlandeses.

Nenhum comentário:

Postar um comentário